Dissertação - Caroline Dias Gabani

Uso do habitat e comportamento de voo do albatroz-de-nariz-amarelo (Thalassarche chlororhynchos) no Oceano Atlântico Sul

Autor: Caroline Dias Gabani (Currículo Lattes)

Resumo

Aves marinhas como os albatrozes são capazes de voo ascendente dinâmico e assim cobrem vastas distâncias ao longo de suas vidas, com baixo gasto energético. Porém o ambiente no qual essas aves estão inseridas muda em diferentes escalas, fazendo com que as aves explorem o ambiente e comportem-se de forma variada ao longo do tempo e do espaço. Neste estudo, 16 albatrozes-de-nariz-amarelo-do-Atlântico (Thalassarche chlororhynchos, AYNA) foram rastreados com transmissores por satélite em 2015 e 2019 a fim de avaliar o uso do habitat e o comportamento de voo. AYNA tem uma distribuição mais subtropical do que os demais albatrozes do Hemisfério Sul e menor envergadura de asa, podendo, assim, usar os ventos de forma diferenciada. Batimetria, temperatura da superfície do mar, níveis de clorofila-a e intensidade e direção dos ventos foram utilizados para caracterizar os contornos de densidade de Kernel das aves rastreadas e também para incorporar num Modelo Escondido de Markov (HMM), capaz de identificar comportamentos ocultos ao longo da rota das aves. Aves fora do período reprodutivo permaneceram sobre a plataforma continental da América do Sul durante todo o tempo de rastreio. A região é caracterizada por águas relativamente mais quentes e eutróficas. Aves em reprodução, por sua vez, realizaram viagens longas até a plataforma sulamericana, e viagens curtas ao redor da colônia em Tristão da Cunha, ocupando durante o trânsito o oceano aberto, caracterizado por águas relativamente quentes, profundas e oligotróficas. Ambos os grupos voaram sobre regiões caracterizadas por processos de mesoescala, onde há altos níveis de clorofila-a e, pontualmente, baixas temperaturas. Beta, o ângulo entre a rota da ave e a direção do vento, foi similar para ambos os grupos. As demais variáveis diferiram entre os grupos imaturo e adulto. Machos e fêmeas também diferiram, mas principalmente porque foram capturados em estações do ano diferentes. No HMM, foram identificados quatro comportamentos escondidos, em ordem de frequência: deslocamento, seguido por forrageio, procura e descanso. Aves em reprodução deslocaram-se mais do que as fora do período reprodutivo, que, por sua vez, forragearam durante uma parte maior do seu tempo de rastreio. Todavia, por serem forrageadoras centrais, aves em reprodução voaram dentro de um espaço mais restrito do que aves fora do período reprodutivo. Como as aves durante o período reprodutivo encontraram diversas formações atmosféricas (definidas a partir de contornos de pressão atmosférica no nível do mar) durante seu trajeto até a colônia, avaliou-se como as aves comportavam-se. Aves usaram ventos periféricos de centros de pressão atmosférica para 4 se deslocar, principalmente quando estes estiveram associados a um beta ortogonal. Aves diante de frentes atmosféricas escolheram ora atravessá-las, ora esperar que passassem (comportamento de descanso), ora deslocaram-se na mesma direção que elas ("carona"). Ao contrário de outros albatrozes, AYNA também utilizou ventos de cauda para deslocarse. De modo geral, AYNA ocupou águas relativamente quentes, forrageou em águas eutróficas rasas e deslocou-se sobre águas oligotróficas profundas. Os locais onde esta espécie ocorre são também áreas conhecidas pela presença de diversas frotas pesqueiras, que impactam negativamente a população da espécie, através da captura acidental em artes de pesca. A partir das características ambientais utilizadas pela espécie e descritas neste estudo, é possível definir quais os locais mais adequados para minimizar as capturas incidentais comuns ao AYNA. Além disso, AYNA também se mostrou capaz de adaptar o comportamento diante de diferentes formações atmosféricas, similar a outras espécies de albatrozes maiores.

TEXTO COMPLETO

Palavras-chave: TelemetriaCiclonesModelo escondido de MarkovStatus reprodutivoVariáveis oceanográficasVentos