Dissertação - Julieta Denise Cebuhar

Variação ontogenética e temporal na ecologia trófica da foca-caranguejeira, lobodon carcinophaga, no leste da península Antártica

Autor: Julieta Denise Cebuhar (Currículo Lattes)

Resumo

Como predador especializado em krill-antártico (Euphausia superba), a foca-caranguejeira (Lobodon carcinophaga) é potencialmente vulnerável aos efeitos das alterações climáticas de longo prazo e à sobrepesca da sua principal presa. Assim, o objetivo deste trabalho foi caracterizar a ecologia trófica das focas-caranguejeiras e sua potencial variação temporal no leste da Península Antártica (LPA). Dentes e bigodes de focas mumificadas encontradas na região da Ilha Marambio/Seymour no LPA foram utilizados para estimar as idades (dentes) e para análises de isótopos estáveis de carbono e nitrogênio (dentes e bigodes). Os dentes caninos e pós-caninos foram processados utilizando técnicas convencionais para estimativa de idades de pinipedes, com o objetivo de comparar as estruturas e determinar qual é a mais indicada para a foca-caranguejeira. A estimativa da idade dos exemplares contando os grupos de camadas de crescimento no cemento dos dentes pós-caninos foi considerada a mais adequada. Subsequentemente, foi analisada a composição isotópica individual (13C e 15N) das GLG dos caninos das focas mumificadas (i.e. focas históricas) e dos bigodes de 5 destes exemplares. Adicionalmente os bigodes de 6 focas amostradas vivas (i.e. focas atuais) na região foram analisados para avaliar diferenças temporais. Os valores de 13C não mostraram diferença estatística entre as focas históricas e atuais, porém, os valores de 15N foram mais altos nestas últimas. A maior área de nicho nas focas atuais em comparação com as mumificadas poderia estar relacionada à incorporação de presas de maior nível trófico em indivíduos atuais, assim como variações potenciais na linha de base das cadeias alimentares modernas. Elevados valores de 15N e mais baixos de 13C encontrados nos filhotes (GLG1) estariam associados ao período de lactação assim como ao catabolismo de tecidos durante o período dejejum pós-desmame. Após este primeiro ano, os valores isotópicos de carbono e de nitrogênio seguem trajetórias de aumento e diminuição, respectivamente, até as GLGs 5-6, consideradas como a idade de maturidade sexual nesta espécie. Estas tendências podem ser explicadas tanto por diferenças no padrão de forrageio destes indivíduos mais jovens como pelo efeito da taxa de crescimento elevada sobre os valores de discriminação isotópica entre as presas e os tecidos do predador, esta última afetando principalmente os valores de 15N. Os resultados deste trabalho mostraram que, a pesar da região do LPA ser considerada menos afetada pelas mudanças climáticas globais, alterações no padrão de forrageio de espécies residentes podem estar indicando possíveis câmbios nos ecossistemas marinhos adjacentes que merecem ser avaliados com mais detalhamento em estudos futuros. Adicionalmente, foram evidenciadas mudanças ontogenéticas nos perfis isotópicos destes predadores possivelmente associados a fatores tróficos e/ou fisiológicos.

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Palavras-chave: Estimativa de idadeIsótopos estáveisMar de WeddellVibrissasFocídeosDente