Dissertação - Andrea Campos Rangel

Avaliação histórica da ecologia espacial e trófica do Boto-de-Lahille (Tursiops truncatus gephyreus) por meio da análise de isótopos estáveis

Autor: Andrea Campos Rangel (Currículo Lattes)

Resumo

No Oceano Atlântico Sul-Ocidental, o Boto-de-Lahille (Tursiops truncatus gephyreus) distribui-se de forma restrita nas águas costeiras do sul do Brasil, Uruguai e norte da Argentina. Seus hábitos costeiros o tornam uma espécie suscetível a impactos antrópicos, principalmente aos efeitos negativos das interações com atividades pesqueiras, como a redução da disponibilidade de suas presas. Com o objetivo de avaliar mudanças históricas na dieta e estimar a ecologia trófica e uso do habitat atual do boto foram realizadas análises de isótopos estáveis de carbono (13C) e nitrogênio (15N) em amostras de osso de espécimes depositados em museus e coleções científicas do Brasil (BR), Uruguai (URU) e Argentina (ARG), coletadas nos períodos I (1900-1950), II (1951-1980), III (1981-2000), e IV (2000-2017). Os valores isotópicos dos botos da ARG foram diferentes do URU e BR desde mediados do SXX até o presente (períodos II, III e IV), refletindo uma provável variação na composição da dieta ou diferenças nos valores isotópicos basais entre as áreas. Estas diferenças coincidem com a separação em Unidades Evolutivamente Significantes previamente postuladas com base em dados genéticos. Na ARG o nicho isotópico consideravelmente amplo da espécie evidenciado nas amostras coletadas no período I foi substituído por um nicho mais estreito nos períodos III e IV, ocupando apenas uma porção deste nicho mais amplo do período I. Nesta área, o boto tinha uma presença comum ao longo de toda a região norte da costa argentina. Hoje, apenas populações com um número reduzido de indivíduos podem ser encontradas ao sul da província de Buenos Aires e na costa norte da Patagônia. A dieta do boto teve uma pequena alteração nas proporções das presas entre os períodos III e IV nesta área. No URU, peixes como Trichiurus lepturus e Mugil sp. são as que mais contribuem com a dieta atualmente (Período IV). Porém, outras espécies demersais também faziam parte da dieta durante o período III, porém em menor proporção que as duas principais. Estas mudanças podem ser devidas à sobre-exploração de presas demersais como demonstrado para a população do estuário da Lagoa dos Patos (BR). A análise retrospectiva de amostras arquivadas em coleções científicas do boto-de-Lahille contribuiu para ampliar o conhecimento da estrutura ecológica e do comportamento alimentar dessa subespécie pouco conhecida.

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Palavras-chave: DietaModelos de misturaNicho isotópicoOceano Atlântico Sul OcidentalBoto-de-Lahille