Avaliação e caracterização da ingestão de resíduos sólidos por cetáceos odontocetos do Atlântico Sul Ocidental

Autor: Marina Zimmer Correa (Currículo Lattes)

Resumo

A ingestão de lixo pela fauna marinha é uma ameaça à biodiversidade e estudos reportando esse tipo de interação podem contribuir para a resolução dessa problemática. Sendo assim, o objetivo do trabalho foi avaliar e caracterizar a ingestão de resíduos sólidos por odontocetos do Atlântico Sul Ocidental. Entre 2018 e 2022 no sul do estado do Rio Grande do Sul, 154 estômagos de seis espécies de cetáceos odontocetos foram coletados de indivíduos encontrados encalhados (n = 143) ou capturados incidentalmente na pesca (n = 11). O conteúdo estomacal foi triado seguindo protocolo para estudos de dieta e os itens de origem antrópica encontrados foram higienizados, contabilizados e caracterizados. Modelos Lineares Generalizados foram utilizados para avaliar a influência de fatores biológicos sobre a presença/ausência de resíduo nos estômagos das espécies e, somente para Pontoporia blainvillei, também foi testada a influência desses fatores sobre as quantidades de itens encontradas, bem como feita uma análise temporal da ingestão por essa espécie (1994 - 2022). Um total de 156 itens foram encontrados em 52 estômagos de quatro espécies: Tursiops spp. (FO% = 3,3%), Steno bredanensis (10,0%), Delphinus delphis (28,6%) e P. blainvillei (47,5%). A presença/ausência de resíduos pode ser explicada apenas pela variável espécie (X² = 28,29, df = 3 e p < 0,001), e a quantidade de itens em P. blainvillei é positivamente influenciada pelo comprimento total do indivíduo (X² = 6,01, df = 1 e p = 0,01) e sexo (X² = 7,93, df = 1 e p = 0,005). Há um aumento na ingestão de plástico por P. blainvillei ao longo dos anos (X² = 121,6, df = 1 e p < 0,001) e, apesar das limitações do modelo gerado, estima-se que 50% dos estômagos dessa espécie continham plásticos em 2017 e, no ano de 2063, esse valor pode aumentar para 90%. Foi confirmada a ingestão de lixo no mar por odontocetos do extremo sul do Brasil, destacando a importância do manejo correto de resíduos. Ressaltam-se os potenciais riscos que esse tipo de poluição representa, principalmente para espécies que enfrentam outras pressões antrópicas, como P. blainvillei, um dos golfinhos mais ameaçados do Oceano Atlântico Sul Ocidental.