Biomecânica da natação e alimentação da medusa Olindias sambaquiensis (Cnidaria, Hydrozoa) determinam sua dieta e seletividade de presas
Autor: Vitória Rodrigues de Lemos (Currículo Lattes)
Resumo
Observações de medusas de Olindias spp. em cultivo sugerem uma estratégia de predação por emboscada, embora o corpo (ou umbrela) achatado dessas espécies seja típico daquelas que predam por meio de correntes alimentares. Descrevemos, pela primeira vez, os padrões de natação, comportamento alimentar, dieta in situ e seletividade de presas de Olindias sambaquiensis. Mudanças ontogenéticas no formato da umbrela, velocidade de natação, frequência de pulsação e tempos de pulsação foram analisadas ao longo da transição no desenvolvimento entre águas-vivas juvenis e adultas. O. sambaquiensis apresenta um dos padrões de natação mais robustos já descritos para medusas, semelhantes aos de medusas de Rhizostomeae e Cubozoa. Técnicas de filmagem em alta velocidade (DPIV e visualização de fluoresceína) revelaram que enquanto a medusa nada, suas fortes pulsações umbrelares produzem vórtices capazes de transportar partículas de alimentação em direção aos tentáculos. Porém, quando a medusa permanece parada próxima ao fundo, ela vibra a ponta de seus tentáculos, com amplitudes e frequências que podem servir de isca para animais que são atraídos por sinais hidromecânicos. As presas dominantes na dieta foram copépodes e quetognatos, porém larvas e juvenis de peixes, embora capturados em frequências mais baixas, apresentaram seletividade positiva em relação à disponibilidade no ambiente. Propomos que presas mais abundantes do mesozooplâncton foram ativamente transportadas pela pulsação umbrelar, mas as presas com maior capacidade sensorial e de natação (i.e. chaetognatas e peixes) foram atraídas através de um comportamento de mimetismo agressivo vibracional. A versatilidade biomecânica da espécie proporciona uma alimentação sobre múltiplos níveis tróficos e amplia sua capacidade adaptativa. Esta versatilidade pode explicar parcialmente as altas densidades atingidas por espécies da família Olindiidae em regiões costeiras e estuários em todo o mundo.