IMPACTOS ECOLÓGICOS E AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DE MEDIDAS REDUTORAS DE CAPTURA INCIDENTAL NA PESCA ARTESANAL DE CAMARÃO-ROSA (Penaeus paulensis) NO SUL DO BRASIL
Autor: Samanta da Silveira Borges (Currículo Lattes)
Resumo
A captura de espécies não alvo (bycatch) gera grandes prejuízos aos ecossistemas e à sustentabilidade de pescarias. As destinadas à captura de camarões são, em geral, as mais impactantes, sendo responsáveis por 1/3 dos descartes mundiais. Uma medida que visa minimizar o bycatch e manter a pescaria eficiente é o desenvolvimento de dispositivos redutores de bycatch (Bycatch Reduction Devices - BRD). Nesse sentido, esse estudo teve como objetivos: avaliar as variações do bycatch na pesca de camarão-rosa no estuário da Lagoa dos Patos entre anos, regiões e após um extremo climático, testar nove BRDs (três diferentes cores para atrativo luminoso e dois modelos de fisheyes, malhas-quadradas e grades); e projetar a biomassa da corvina (Micropogonias furnieri), principal espécie com captura reduzida pelos testes. Para a avaliação do bycatch foram realizadas coletas de amostras em: a) três diferentes anos (2020, 2021 e 2022); b) em três regiões diferentes na mesma safra de camarão (2022) e c) amostragem antes e após a passagem de um ciclone. Foi observado diferenças significativas no bycatch entre anos e regiões quanto a estrutura da comunidade capturada e diferença na riqueza de espécies após o ciclone. Para avaliação da eficiência de cada BRD foi realizado um total de 60 lances comparando redes com BRDs e sem (controle). Houve redução significativa de bycatch com a utilização dos modelos 1 e 2 dos fisheyes e grades e modelo 2 da malha-quadrada. Porém somente a grade modelo 2 (G2; ângulo de instalação de 32°) reduziu o bycatch sem reduzir significativamente a espécie-alvo. E por fim foi realizada uma projeção de biomassa, baseada em dados de crescimento e mortalidade, simulando a biomassa do bycatch (corvina) que sobreviveria devido à utilização do dispositivo. Estimou-se que com a G2 foi reduzido ~77% de corvinas. Considerando uma safra inteira, essa sobrevivência resultaria no acréscimo de 683 a 1367 kg de corvinas na população em um ano, e de ~1315 a 2630 kg em dois anos. Dado que os estuários são sistemas dinâmicos e podem variar constantemente, é importante entender como essas variações refletem na pesca e consequentemente nas resoluções de seus impactos.