Dissertação - Henrique Quadros Parada

Variabilidade na ecologia trófica de um peixe estuarino residente ao longo da costa brasileira

Autor: Henrique Quadros Parada (Currículo Lattes)

Resumo

Os elos tróficos que sustentam os peixes e as variações no seu nicho trófico entre estuários com diferenças hidrogeomorfológicas são aspectos ainda pouco compreendidos. Um modelo propício para avaliar variações espaciais na ecologia trófica de peixes estuarinos residentes é o peixe-rei Atherinella brasiliensis, que ocorre em estuários ao longo de toda a costa brasileira. O presente estudo utilizou teste de médias e métricas isotópicas de similaridade e aninhamento para identificar diferenças na composição isotópica (13C e 15N) entre populações da espécie em sete diferentes estuários brasileiros (0o-33oS). Além disso, modelos de mistura isotópicos foram utilizados para estimar a contribuição relativa de fontes alimentares basais (produtores primários e outras fontes orgânicas) para o peixe-rei nos diferentes estuários. No total, foram coletadas 178 amostras de A. brasiliensis para análise de isótopos estáveis em diferentes locais no interior de cada estuário. Os testes de médias constataram diferenças significativas nos 13C entre o estuário de Mamanguape (6oS) e os demais estuários. Já para o 15N, foram constatadas diferenças nos valores médios entre o estuário da Bahia de Todos os Santos (13oS) e os demais estuários. As métricas isotópicas de similaridade e aninhamento mostraram que o nicho isotópico varia marcadamente entre os estuários. Os modelos de mistura mostraram variações na assimilação das fontes alimentares basais pelo peixe-rei ao longo da costa brasileira. Nos estuários de Curuçá (0oS) e Chuí (33oS) a maior assimilação foram das plantas de marisma C4 (56% e 37%, respectivamente), para Mamanguape (6oS) foi o manguezal (49%). Já para Bahia de Todos os Santos (13oS), Sepetiba (22oS) e Tramandaí (29oS) a maior assimilação foi da matéria orgânica particulada (POM) (50%, 55% e 31%, respectivamente), enquanto para a Lagoa dos Patos (32) foi das macroalgas (48%). Esse padrão sugere uma maior contribuição da via trófica bentônica (i.e. manguezal, macroalga, gramínea marinha e marisma) comparada a pelágica (POM, matéria orgânica particulada em suspensão) nos estuários de Curuçá, Mamanguape, Tramandaí e Lagoa dos Patos e Chuí. Já na Bahia de Todos os Santos e em Sepetiba houve uma contribuição mais equitativa das vias bentônicas e pelágicas. Estudos futuros são necessários para avaliar como as variáveis ambientais e as mudanças climáticas podem afetar o nicho isotópico do peixe-rei ao longo da costa brasileira.

TEXTO COMPLETO

Palavras-chave: Oceanografia biológicaPeixesIsótopos estáveisAtherinella brasiliensisPeixe reiNicho isotópicoFonte de alimentaçãoAlimentação de peixesFontes alimentares bentônicasFontes alimentares pelágicasEcologia trófica