Dissertação - Ana Júlia Alves de Lima

Captura incidental de elasmobrânquios no Sul do Brasil : análise da composição e descartes nas pescarias de emalhe de fundo e arrasto de parelhas

Autor: Ana Júlia Alves de Lima (Currículo Lattes)

Resumo

Os elasmobrânquios possuem uma história evolutiva que ultrapassa 400 milhões de anos e, grande parte deles, apresenta características típicas de "estrategistas K", como crescimento lento, baixa mortalidade natural e reduzido potencial reprodutivo, tornando-as vulneráveis a pressões externas, como sobrepesca e degradação de habitats. No Brasil, foram registradas 155 espécies marinhas, com a costa do Rio Grande do Sul abrigando mais de 60% dessa biodiversidade, sendo 20% das espécies classificadas como Criticamente Ameaçadas (CR) pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). As capturas incidentais (bycatch) permanecem um problema, especialmente nas frotas de arrasto e emalhe, principais modalidades de pesca industrial do estado. Este estudo avaliou a composição das espécies de elasmobrânquios e as taxas de descarte em pescarias de emalhe de fundo e arrasto de parelha no sul do Brasil, com dados de 53 viagens de emalhe e 8 de arrasto entre 2013 e 2023. As taxas de descarte, calculadas com base no peso dos elasmobrânquios descartados em relação ao total capturado, foram analisadas ao longo das estações, profundidades e tipos de pescaria. Análises estatísticas, incluindo os testes de Kruskal-Wallis, Mann-Whitney e Wilcoxon, além da Análise de Correspondência e diagrama de Venn, foram utilizadas para avaliar as diferenças nas taxas de descarte e na composição das espécies. Foram registradas 40 espécies na pesca de emalhe e 28 na pesca de arrasto. O cação-anjo-espinhoso Squatina guggenheim e o cação- cola-fina Mustelus schmitti predominaram nas capturas de emalhe (57%), enquanto, na pesca de arrasto, as espécies mais representativas foram a raia-viola Pseudobatos horkelii, o cação-anjo-espinhoso e a raia-emplastro Atantoraja platana (49%); todas classificadas com algum grau de ameaça pela UICN. As taxas de descarte variaram substancialmente, com o emalhe apresentando taxas significativamente mais altas (0,71% a 12,43%) do que o arrasto (0,4% a 3,19%), apesar deste último apresentar maiores volumes de desembarque. Esses resultados destacam a necessidade de reforçar medidas de gestão pesqueira e conservação, como a criação de áreas marinhas protegidas (AMPs) e ampliação das zonas de exclusão para emalhe, para proteger habitats críticos, reduzir a captura incidental de elasmobrânquios e promover a sustentabilidade pesqueira.

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Palavras-chave: Oceanografia biológicaPeixesRajiformesPescaRegulamentaçãoCaptura incidentalElasmobrânquiosPeixes demersaisConservação marinha