Tese - Julieta Denise Cebuhar

Ecologia trófica, microbioma e impactos antrópicos em focas antárticas, uma abordagem integrada

Autor: Julieta Denise Cebuhar (Currículo Lattes)

Resumo

Predadores de topo da cadeia trófica, como as focas antárticas, desempenham papéis ecológicos fundamentais nos ecossistemas marinhos polares e são particularmente sensíveis às mudanças ambientais e à crescente influência antrópica. Esta tese investigou, de forma integrada, a ecologia trófica, a composição da microbiota intestinal e a presença de resíduos antropogênicos em três espécies de focas simpátricas - foca-caranguejeira (Lobodon carcinophaga), foca-leopardo (Hydrurga leptonyx) e foca-de-weddell (Leptonychotes weddellii) - na região da Costa Danco, Península Antártica Ocidental (PAO). Para caracterizar a composição alimentar das três espécies e avaliar a sobreposição de nichos tróficos, foram analisados restos alimentares presentes em amostras fecais. Os resultados indicaram que focas-caranguejeiras e focas-leopardo compartilham uma dieta majoritariamente composta por krill, sugerindo alta sobreposição de nicho trófico. Em contraste, as focas-de-weddell apresentaram uma dieta mais diversificada, com a presença de diferentes espécies de peixes, tais como Pleuragramma antarctica e Electrona antarctica, e cefalópodes, como Pareledone turqueti, Physcroteuthis glacialis e Graneledone sp. Esses resultados corroboram o comportamento alimentar generalista das focas-de-weddell e sua menor sobreposição trófica com as demais espécies. Ainda, a composição da microbiota intestinal das três espécies foi investigada por meio da amplificação do gene 16S rRNA. As focas-deweddell exibiram maior diversidade e riqueza bacteriana, coerente com sua dieta mais variada. Em contrapartida, a microbiota das focas-caranguejeiras mostrou menor diversidade, possivelmente associada à sua especialização alimentar. Embora as espécies estudadas sejam filogeneticamente próximas, as diferenças interespecíficas observadas nas comunidades bacterianas sugerem que a dieta, neste caso, exerce papel determinante na estruturação da microbiota intestinal. Por fim, foi avaliada a presença de microplásticos e outros resíduos de origem antropogênica nas amostras de fezes. As partículas identificadas incluíram fibras, fragmentos e filamentos com tamanhos menores que 5 mm. Análises realizadas por espectroscopia micro-Raman e micro espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) revelaram que a composição química desses resíduos incluía principalmente carbon black, poliestireno, poliéster, e polietileno tereftalato e alguns pigmentos como índigo 3600, reactive blue 238 e ftalocianina de cobre verde e azul. A detecção de microplásticos em predadores de topo sugere não apenas ingestão direta, mas também possível transferência trófica ao longo da cadeia alimentar. Neste contexto, as focas antárticas podem atuar como bioindicadoras da saúde dos ecossistemas marinhos polares, refletindo tanto variações naturais - como diferenças alimentares e na microbiota - quanto pressões antrópicas, como a poluição por plásticos. Esta tese oferece resultados relevantes para elaboração de estratégias de conservação no âmbito do Tratado da Antártica, destacando a importância de abordagens interdisciplinares para compreender os impactos cumulativos em ambientes extremos.

TEXTO COMPLETO

Palavras-chave: Oceanografia biológicaEspectroscopia RamanEspectroscopia FTIRFocasLeptonychotes weddelliiLobodon carcinophagaHydrurga leptonyxDieta animalEcologia tróficaMicrobiota intestinalConteúdo intestinalMicroplásticosGene 16S rRNAPenínsula Antártica