Dissertação - Raphael Mathias Pinotti

Variabilidade espaço-temporal da macrofauna bentônica no infralitoral do Estuário da Lagoa dos Patos e na região marinha adjacente, extremo sul do Brasil

Autor: Raphael Mathias Pinotti (Currículo Lattes)

Resumo

Foi avaliada a variabilidade espaço-temporal das associações macrozoobentônicas no canal da região estuarina da Lagoa dos Patos (onde ocorrem dragagens) e na área marinha adjacente à desembocadura (onde o material dragado é descartado), entre o verão de 2006 e o verão de 2009. As amostras foram realizadas sazonalmente nesta região estuarina em 12 pontos: dois localizados 4,5 km à montante da área portuária de Rio Grande (# 00 e # 0), nove pontos distribuídos ao longo do canal principal da Lagoa dos Patos (desde a área do Porto Novo até a desembocadura da laguna, nos molhes de Rio Grande, # 1 a # 9) e um ponto utilizado como área de descarte (# 10). No ambiente marinho, adjacente à desembocadura da laguna, as amostras foram coletadas sazonalmente em dois pontos: na área utilizada como Descarte (# 11) e em uma área situada a 1 milha náutica a SE desta, utilizada como Controle (# 12), onde não ocorreu descarte. Quatro amostras biológicas foram coletadas em cada ponto com um pegador de fundo van Veen (0,078 m2), sendo também obtidas amostras de sedimento e registradas a salinidade, temperatura e transparência da água. A variação espacial do macrozoobentos na região estuarina revelou que o tipo de sedimento, a temperatura da água e principalmente a salinidade, exercem forte influência sobre os organismos. As maiores densidades ocorreram nas áreas com predomínio de sedimento areno-lodoso à montante da desembocadura, onde predominaram espécies estuarinas; as menores abundâncias do macrozoobentos ocorreram em uma zona intermediária; enquanto a maior diversidade de espécies marinhas foi encontrada na zona da desembocadura. Não foram evidenciados efeitos deletérios da dragagem sobre a associação macrozoobentônica no interior do estuário, onde a variabilidade registrada na abundância e diversidade foi atribuída à dinâmica sazonal e/ou interanual dos organismos. Quanto à variação temporal, verificou-se que a maior variabilidade do número de espécies no canal em relação ao encontrado nas enseadas rasas do estuário reflete a maior instabilidade física da área mais profunda, na qual uma maior dinâmica de enchentes e vazantes provocam drásticas variações de salinidade e uma maior instabilidade do substrato. A manutenção de salinidades elevadas permite uma maior sobrevivência e persistência temporal de organismos marinhos na região estuarina, aumentando o número de espécies e modificando a composição específica das associações bentônicas. Não foram encontrados indícios de que o despejo de sedimentos predominantemente finos, na área de Descarte no ambiente marinho, tenha influenciado negativamente a macrofauna bentônica. Neste resultado influenciou o tipo de substrato arenoso na área de Descarte, ao contrário do sedimento com maiores teores de finos na área Controle. O descarte de material dragado, dominado por partículas finas, diminuiu a heterogeneidade espacial pré-existente entre as duas áreas e promoveu um enriquecimento do substrato arenoso da área de Descarte, determinando um aumento do número de espécies e um incremento nas densidades do macrozoobentos. Se sugere que os organismos residentes na área de influência da desembocadura da laguna podem estar adaptados às elevadas taxas de sedimentação local, uma vez que são periodicamente submetidos a eventos naturais de deposição de sedimentos finos originados pela vazão da laguna. Assim, estes organismos podem assimilar a ocorrência de eventos estocásticos de deposição lamítica, como os descartes de sedimentos dragados, dado a guilda de comedores de depósito que predomina entre as espécies no ambiente marinho adjacente à desembocadura da Lagoa dos Patos.

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Palavras-chave: BentosVariação espacialVariação temporalBrasilLagoa dos PatosRio Grande do SulMacrozoobentosAvaliação de impactosDragagem marítima