Dissertação - Leandro Lazzari Ciotti

Isótopos estáveis de carbono e nitrogênio aplicados ao estudo da ecologia trófica do peixe-boi marinho (Trichechus manatus) no Brasil

Autor: Leandro Lazzari Ciotti (Currículo Lattes)

Resumo

Na costa brasileira, o peixe-boi marinho, Trichechus manatus, apresenta distribuição fragmentada e restrita a algumas regiões com características ecológicas distintas. É considerado um herbívoro generalista e oportunista, que consome uma ampla variedade de vegetação de rios, mares e estuários, porém, existem poucas informações sobre a ecologia da espécie no país. O objetivo do presente estudo foi o de estudar a ecologia trófica de T. manatus no Brasil por meio de análise de isótopos estáveis. Amostras de dentes (n=22) e ossos (n=21) de peixes-bois encalhados e amostras de vegetação foram coletadas na região nordeste do país para a análise de isótopos estáveis de carbono (δ13C) e nitrogênio (δ15N). Os animais foram agrupados em cinco regiões: Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraíba (que também inclui animais do Rio Grande do Norte e Pernambuco) e Piauí. As plantas, obtidas destas mesmas regiões, foram categorizadas em quatro grupos: fanerógamas marinhas, macroalgas, mangues e de marismas. O modelo de mistura bayesiano para isótopos estáveis SIAR (Stable Isotopes Analysis in R) foi utilizado para estimar as proporções das fontes nas dietas dos grupos de peixesbois. Não foram verificadas diferenças nos valores de δ13C e δ15N entre dentes e ossos, classes de idade ou sexos. Foram verificadas, entretanto, diferenças nas composições isotópicas dos peixes-bois entre as regiões, principalmente com relação ao carbono: os peixes-bois do Ceará (-7,0 ±0,5‰) apresentaram as composições mais enriquecidas em 13C, enquanto os valores mais empobrecidos foram encontrados nos animais do Maranhão (-15,7 ±1,6‰). Valores intermediários foram observados nos indivíduos de Alagoas (-9,3 ±0,4‰), Piauí (-9,3 ±0,6‰) e Paraíba (-11,4 ±2,8‰). Com relação aos isótopos de nitrogênio, os animais da Paraíba (8,8 ±1,2‰) apresentaram composições mais enriquecidas em 15N do que os indivíduos das outras regiões. O modelo de mistura também mostrou diferenças espaciais na ecologia trófica dos peixes-bois. Os animais do Ceará consumiram predominantemente fanerógamas (97,3%), enquanto as fanerógamas (69,4%) e as macroalgas (64,4%) foram mais importantes para os indivíduos de Alagoas e Paraíba, respectivamente. Apesar dos manguezais predominarem no Maranhão, a vegetação de marisma foi a que apresentou a maior contribuição (68,7%) na dieta dos peixes-bois do região. Diferentemente das demais regiões, os indivíduos do Piauí apresentaram uma dieta mais diversificada, na qual os quatro grupos de macrófitas contribuíram em proporções similares (fanerógamas: 28,5%; marismas: 27,1%; macroalgas: 24,0%; mangues: 20,4%). Os resultados demonstram diferenças espaciais nas estratégias alimentares, bem como a importância dos diferentes grupos de macrófitas na dieta dos peixes-bois. O presente estudo é o primeiro a aplicar a análise de isótopos estáveis em peixes-bois marinhos na América do Sul, amplia o conhecimento sobre a ecologia trófica da espécie no país e fornece informações importantes para o estabelecimento de estratégias para a conservação de T. manatus e seu habitat no Brasil.

TEXTO COMPLETO

Palavras-chave: Oceanografia biológicaEcologiaPeixe-boiMacrófitas marinhasComposição isotópicaSirênios