Tese - Patrícia Luciano Mancini

Relações tróficas de aves marinhas tropicais em ilhas ocêanicas do Brasil

Autor: Patrícia Luciano Mancini (Currículo Lattes)

Resumo

As aves marinhas são importantes elementos do ecossistema marinho e o estudo de suas relações tróficas ajuda a compreender os mecanismos de segregação trófica intra e interespecíficos nas comunidades, e suas relações com presas e competidores em potencial, como os grandes peixes pelágicos. Esse estudo investigou as relações tróficas das comunidades de aves marinhas (Charadriiformes, Procellariiformes, Phaethontiformes, Suliformes) que se reproduzem em cinco ilhas oceânicas tropicais no Brasil (arquipélagos de São Pedro e São Paulo - ASPSP, Fernando de Noronha, Abrolhos, Ilha da Trindade e Atol das Rocas). Foram utilizadas análises de isótopos estáveis de carbono e nitrogênio em amostras de sangue das aves e músculos de presas coletadas, bem como análise de regurgitados das aves do ASPSP. A tese compreende uma compilação geral das metodologias e principais resultados e três artigos em anexo. No primeiro artigo, hipotetizou-se que a posição trófica (PT) das espécies de aves marinhas estaria correlacionada com o tamanho do corpo, e que haveria diferenças inter e intraespecíficas no nicho trófico entre as comunidades durante o período reprodutivo. Para isso investigou-se quais fatores (espécies, sexo, idade, local) influenciam nessas diferenças. Na maioria das comunidades de aves marinhas a PT foi positivamente correlacionada com o tamanho do corpo, com fragatas e atobás ocupando maior nível trófico que viuvinhas e trinta-réis. Todas as espécies apresentaram segregação trófica no ASPSP e Abrolhos e 60-70% das espécies estiveram segregadas em Fernando de Noronha e Ilha da Trindade, mas não no Atol das Rocas onde a segregação foi reduzida (43%). A sobreposição de nicho trófico ocorreu principalmente entre espécies congêneres. O nicho isotópico e PT variaram entre as ilhas para as três espécies de atobás (Sula sula, S. leucogaster e S. dactylatra), viuvinha-marrom (Anous stolidus) e rabo-de-junco-de-bico-vermelho (Phaethon aethereus). O segundo artigo abordou as relações tróficas inter e intraespecíficas das aves marinhas do ASPSP, bem como as relações tróficas das aves com peixes pelágicos e caranguejos. A principal presa consumida pelas aves no ASPSP foi o peixe-voador (Exocoetus volitans) e o tamanho da presa foi importante para a segregação trófica entre as espécies. As aves não apresentaram diferenças tróficas entre sexo, mas sim por idade. O atobá-marrom (S. leucogaster) partilhou a mesma PT que os grandes peixes pelágicos, devido ao predomínio de peixes-voadores na dieta, no entanto a competição entre espécies é pouco provável por causa da abundância de presas e pequeno número de aves na região e a segregação ocorre principalmente pelo consumo de peixes de diferentes tamanhos. Além disso, as aves marinhas desta colônia são importantes fontes de nutrientes para os caranguejos-aratus (Grapsus grapsus). No terceiro artigo investigou-se a hipótese de competição intersexual em aves marinhas polares e tropicais durante o período reprodutivo. Esperava-se que espécies com maior índice de dimorfismo sexual (ID) apresentassem maior segregação trófica ou espacial. No entanto, não foi encontrada correlação entre estas variáveis. Por outro lado, em uma meta-análise identificaram-se 37 artigos que investigaram a segregação trófica intraespecífica a partir de dados de isótopos estáveis, os quais sugerem que o dimorfismo sexual no tamanho facilita a segregação trófica ou espacial em aves marinhas polares, mas não em aves tropicais. Isso pode refletir a homogeneidade de valores de isótopos nas linhas isotópicas basais pelágicas das águas tropicais, bem como a baixa diversidade de modos de forrageamento das aves, que consiste basicamente em explorar áreas pelágicas e próximas à superfície. Nessa tese demonstrou-se que nas relações tróficas das aves marinhas com suas presas há mecanismos de segregação trófica inter e intraespecificos, mesmo quando muitas espécies utilizam a mesma espécie de presa, como no ASPSP. Em geral, parece haver limitada sobreposição de nicho trófico entre as espécies, com maior sobreposição de nicho entre sexos durante o período reprodutivo.

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Palavras-chave: Aves marinhasBrasilIlhas oceânicasEcologia trófica