Tese - Maira Carneiro Proietti

Genética populacional e mudanças ecológicas ontogenéticas de tartarugasde-pente (eretmochelys imbricata) imaturas no Brasil

Autor: Maira Carneiro Proietti (Currículo Lattes)

Resumo

Estudos sobre a ecologia, migrações, estrutura das populações, e ciclo de vida de animais marinhos altamente migratórios como tartarugas marinhas, que possuem fases da vida em locais desconhecidos ou inacessíveis, são complexos porém essenciais para orientar estratégias de conservação. Nesta tese, análises da região controle do DNA mitocondrial (mtDNA), de correntes superficiais oceânicas (boias de deriva e modelagem biofísica), e de isótopos estáveis do carbono e nitrogênio, foram realizadas para elucidar algumas características ecológicas e populacionais de tartarugas-de-pente (Eretmochelys imbricata) imaturas em águas brasileiras. O Arquipélago de São Pedro e São Paulo (SPSP) e o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos foram identificados como importantes áreas de ocorrência da espécie e recomendados como locais prioritários para a sua conservação e recuperação. Através da análise do mtDNA, registrou-se, pela primeira vez, a ocorrência de híbridos imaturos de tartarugas-de-pente x tartarugas-cabeçudas provenientes da área de desova da Bahia. Estes híbridos foram observados no Ceará e Praia do Cassino (RS), áreas comuns para tartarugas-cabeçudas, porém incomuns para tartarugas-de-pente. Modelos de dispersão de partículas oceânicas demonstraram que tartarugas híbridas possuem maior chance de atingirem a região temperada do sul do Brasil do que tartarugas-de-pente puras. Sugere-se que, apesar da similaridade morfológica com a tartarugas-de-pente, a ecologia dos híbridos assemelha-se mais às tartarugas-cabeçudas. A análise do mtDNA também revelou que as tartarugas-de-pente imaturas na costa brasileira apresentam diversidade haplotípica média (h = 0.413), estruturação populacional fraca entre si, e origens principalmente a partir das áreas de desova nacionais, localizadas no litoral da Bahia e na Praia de Pipa (RN). Dados de bóias de deriva corroboraram as contribuições das áreas de desova brasileiras às áreas alimentares, com transporte via as Correntes Norte do Brasil e do Brasil. Por fim, as razões dos isótopos estáveis do carbono e nitrogênio (δ13C e δ15N) da carapaça e pele de tartarugas-de-pente imaturas foram analisadas por Espectrometria de Massa de Razões Isotópicas (IRMS) e também por Espectrometria de Massa de Íons Secundários (SIMS) de secções transversais de carapaça. SIMS forneceu análises com alta resolução espacial, sendo possível descrever variações na história de vida de tartarugas de pente incluindo a aparente detecção da transição entre a fase oceânica (dieta oportunista e onívora) e costeira (dieta especializada e carnívora). IRMS revelou maiores valores médios de δ13C e δ15N em pele do que casco. Uma vez que a taxa de renovação da pele é maior que a do casco, isto indica que a história recente destes animais é caracterizada por uma dieta baseada em organismos de nível trófico mais elevado e ocupação de habitats mais próximos da costa. Através da integração de diferentes ferramentas de estudo aplicadas às tartarugas-de-pente, foi possível obter um melhor entendimento sobre a estrutura das suas populações e ecologia. Estas informações poderão auxiliar tomadores de decisão na elaboração de estratégias de conservação desta espécie criticamente ameaçada de extinção .

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