Tese - Raphael Mathias Pinotti

A estrutura do macrozoobentos em uma praia arenosa no extremo sul do Brasil: a influência da morfodinâmica, de feições geomorfológicas e de eventos meteorológicos

Autor: Raphael Mathias Pinotti (Currículo Lattes)

Resumo

A influência da morfodinâmica, de feições geomorfológicas e eventos meteorológicos na estrutura da comunidade macrozoobentônica foi investigada ao longo de uma praia arenosa exposta no extremo sul do Brasil (~32ºS). As principais relações tróficas e os fluxos de matéria nos diferentes compartimentos biológicos foram revisados, sendo comparada a estrutura das comunidades macrozoobentônicas em regiões de praia com distintos estados morfodinâmicos. Expedições de monitoramento/amostragem foram sazonalmente realizadas - durante quatro semanas consecutivas - na primavera 2010 e no verão, outono e inverno 2011. Amostragens biológicas foram executadas em áreas de cúspides praiais, sangradouros e áreas de embancamentos sempre que detectados, sendo posteriormente comparados com áreas controle. Variáveis ambientais foram registradas com o objetivo de caracterizar o ambiente praial, as feições geomorfológicas (cúspides e sangradouros) e as áreas de embancamento. Densas concentrações da diatomácea Asterionellopsis glacialis sustentam consumidores até o nível terciário, principalmente Amarilladesma mactroides, Donax hanleyanus e Emerita brasiliensis. Caranguejos, gastrópodes, poliquetas carnívoros, aves e peixes podem estar presentes e ocupam níveis tróficos superiores, dependendo da morfodinâmica praial. A presença de sistemas cúspide/baía foi sazonalmente associada às estações quentes, com predomínio de estados morfodinâmicos intermediários. Bivalves A. mactroides e D. hanleyanus ocorreram em densas concentrações associadas às baías enquanto elevadas densidades de E. brasiliensis e Excirolana armata foram associadas às cúspides. A presença de sangradouros foi sazonalmente influenciada pelas taxas de precipitação, mais elevadas nas estações frias. Uma maior concentração de sangradouros foi observada em áreas urbanizadas e de lagoas costeiras/banhados. A precipitação influenciou a vazão dos sangradouros e a salinidade na costa, determinando alterações significativas na composição e estrutura do macrozoobentos. Elevadas densidades de A. mactroides, D. hanleyanus e Spio gaucha foram registradas nas áreas afastadas dos sangradouros (i.e., áreas controle), um padrão também observado para a riqueza de espécies. Situações específicas favoreceram a ocorrência de S. gaucha, E. brasiliensis e E. armata próximo aos sangradouros. Ciclones extratropicais foram mais frequentes durante a primavera e o inverno, quando sistemas frontais foram frequentes. Ventos fortes de SW-E influenciaram no empilhamento de água na costa, independentemente da estação. Quinze táxons macrozoobentônicos foram registrados em dez áreas de embancamentos, principalmente registrados nas estações quentes. A ação de ventos fortes (SW) em períodos de recrutamento aumenta significativamente o risco de embancamentos. Elevadas perdas em densidade e alterações na composição da comunidade podem afetar o equilíbrio ecológico das associações de macroinvertebrados bentônicos, especialmente na relação entre A. mactroides e seus principais competidores, D. hanleyanus e E. brasiliensis. Podemos concluir que as comunidades macrozoobentônicas que habitam o extremo sul do Brasil são controladas por fatores físicos e interações ecológicas. Os estados morfodinâmicos são capazes de influenciar as relações tróficas e a distribuição horizontal da macrofauna pela presença de cúspides praiais. Fenômenos estocásticos (ENSO) e os cenários de mudança climática global também podem influenciar negativamente o macrozoobentos, tanto em função das alterações na distribuição espaço-temporal de sangradouros (influenciando sua vazão e a salinidade na costa), como pela maior frequência e intensidade de embancamentos.

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Palavras-chave: MacrozoobentosMorfodinâmicaFenômenos meteorológicosEventos geomorfológicosBrasilPraias arenosasRelações tróficas