Tese - Pedro Friedrich Fruet

Estrutura genética, dinâmica e viabilidade populacional do boto, Tursiops truncatus, do estuário da Lagoa dos Patos, sul do Brasil

Autor: Pedro Friedrich Fruet (Currículo Lattes)

Resumo

Apesar de bem estudado em todo o mundo, o conhecimento sobre a ecologia do boto (Tursiops truncatus) ainda é escasso no Oceano Atlântico Sul Ocidental (ASO). O aumento das taxas de capturas acidentais em algumas áreas costeiras do sul do Brasil tem levantado suspeitas sobre um potencial declínio de algumas comunidades locais de botos, mas a falta de dados relevantes dificultam uma avaliação adequada sobre o seu status de conservação. Os principais objetivos desta tese foram investigar a estrutura genética do boto no ASO, assim como compreender a dinâmica e avaliar a viabilidade da pequena comunidade de botos que habita o estuário da Lagoa dos Patos (ELP) no sul do Brasil. No capítulo II (ANEXO I) combinou-se uma análise de 16 loci de microssatélites e sequências de região controle do DNA mitocondrial para investigar a diversidade genética, estrutura e conectividade de seis comunidades de botos amostradas ao longo da costa do ASO. Foram encontrados níveis extremamente baixos de diversidade genética e forte estruturação populacional entre algumas comunidades, o que sugere que os botos da Baía San Antonio (BSA), Argentina, e do sul do Brasil e Uruguai (SB-U) representam duas Unidades Evolutivamente Significativas (ESUs), e que as comunidades de botos do SB-U compõe cinco Unidades de Manejo (MUs) distintas para fins de manejo e conservação. Nos capítulos III (ANEXO II) e IV (ANEXO III) combinou-se uma série de informações coletadas sistematicamente através de foto-identifcação e monitoramento da mortalidade dos botos para estimar parâmetros demográficos e de história de vida dos botos do ELP e águas adjacentes. Aplicando-se os dados de foto-identificação a modelos de marcação-recaptura do Desenho Robusto de Pollock e Commarck-Jolly-Seber, foram encontradas taxas de sobrevivência mais altas para fêmeas adultas (0,97, 95% CI: 0,91-0,99) do que para os machos adultos (0,88, 95% CI: 0,75-0,94), juvenis (0,83, 95% CI: 0,64-0,93) e filhotes de 0,84 (IC 95% = 0,72-0,90). Estimativas anuais de abundância foram altamente precisas (maior CV = 0,053) e não ultrapassaram 88 indivíduos, sem detectar claras tendências temporais na abundância. Os resultados sustentam uma comunidade de botos com reprodução em pulso, com a maioria dos nascimentos ocorrendo durante o início do verão austral. As fêmeas começam a reproduzir com idade mínima de 8 anos. A média de intervalo entre nascimentos foi de 3 anos (moda = 2), e a fecundidade foi estimada em 0,11. A partir da análise de dentes de animais encalhados observou-se clara mudança nos perfis de 13C e 15N próximos a idade de 2 anos, indicando a idade mais provável de desmame. Fêmeas mais velhas reproduziram-se a taxas mais baixas, sugerindo uma diminuição na aptidão reprodutiva relacionada a idade. Este padrão pode explicar a marcada variação individual no sucesso reprodutivo observada. No capítulo V (ANEXO IV), utilizando-se das informações demográficas obtidas nos capítulos anteriores, contrui-se um modelo estocástico estruturado por estágios para investigar a dinâmica e a viabilidade da comunidade de botos do ELP sob diferentes cenários de impactos de pesca e incertezas nos parâmetros do modelo. Na ausência de capturas acidentais, estimou-se uma taxa anual de crescimento próxima a 3% (IC 95%: 1,2%-5,8%) e baixas probabilidades de declínio nos próximos 60 anos sob os atuais impactos da pesca. No entanto, as simulações de viabilidade mostraram que um pequeno aumento nas taxas de captura, especialmente de fêmeas maturas, pode levar a comunidade do ELP a declinar rapidamente. A viabilidade, contudo, seria substancialmente beneficiada com um aumento na sobrevivência de juvenis/sub-adultos, o que pode ser alcançado através da área de proteção para o boto recentemente implementada no sul do Brasil, a qual proíbe a pesca de emalhe por embarcações na área preferencial dos botos do ELP.

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Palavras-chave: EcologiaBotosTursiops truncatusBrasilLagoa dos PatosRio Grande do Sul