Dissertação - Luciana Medeiros Silva

Mudanças ontogenéticas na dieta e no uso de habitat e estimativa de idade e crescimento da tartaruga-de-pente, Eretmochelys imbricata.

Autor: Luciana Medeiros Silva (Currículo Lattes)

Resumo

Apesar de sua ampla distribuição geográfica em águas tropicais e subtropicais de todo o mundo, a história de vida da tartaruga-de-pente, Eretmochelys imbricata, é pouco estudada em uma escala global. Além disso, um dos maiores mistérios da história de vida das tartarugas marinhas são os seus primeiros anos de vida, que ocorrem em locais desconhecidos ou inacessíveis. Onde, como e por quanto tempo este período enigmático ocorre continua a ser um desafio especial para os herpetólogos. No presente estudo, a análise de isótopos estáveis (AIE) foi combinada com a esqueletocronologia para avaliar as fases iniciais de vida e detectar mudanças ontogenéticas de habitat e na utilização de recursos pelas tartarugas-de-pente ao longo da costa brasileira. Embora a AIE forneça informações essenciais para a ecologia animal, a interpretação dos valores isotópicos baseia-se em premissas que não estão bem estabelecidas, como a presença de lipídios nos tecidos animais e o viés que eles podem causar nos valores de 13C. Por esta razão, os efeitos de extração de lipídios nos valores de isótopos estáveis dos ossos de tartarugas marinhas também foram testados neste trabalho, a fim de estabelecer um protocolo padrão para o processamento do tecido ósseo. Neste experimento, os valores de 13C foram significativamente maiores que o grupo controle, após a extração de lipídios com clorofórmio:methanol. Em contrapartida, os valores de 15N não foram afetados por nenhum tratamento de extração. Estes resultados sugerem que a extração de lipídios é um passo importante para a determinação precisa de 13C dos ossos de tartarugas marinhas. O comprimento da carapaça e a estimativa de idade das tartarugas-de-pente variou de 26,0 a 111,0 cm e de 2 a 26 anos, respectivamente. As taxas de crescimento mantiveram-se elevadas em todas as classes de tamanho (1,12-8,26 cm) com o pico de crescimento na classe de 60-69,9 cm CCC. Com base no modelo de crescimento, a maturação sexual para as tartarugas-de-pente do Atlântico Sul foi estimada a ocorrer em média aos 26,98 ± 10,69 anos. Os valores de 13C não diferiram entre as classes etárias e de tamanho. Além disso, os valores de 13C não apresentaram correlação com o tamanho corporal. Os valores de 15N entre 6 e 8 anos foram significativamente maiores do que no primeiro ano de vida. Os valores de 15N também foram maiores nos animais entre 4059,9 cm CCC em comparação com as classes de tamanho menores. Observou-se uma correlação positiva entre 15N e o comprimento da carapaça, mas nenhuma correlação foi registrada entre os valores isotópicos e as taxas de crescimento. Estes dados contradizem o antigo paradigma que afirma que as tartarugas-de-pente, ao recrutarem do ambiente pelágico para o ambiente nerítico, alteram seu hábito alimentar onívoro para uma dieta preferencialmente espongívora. Ao contrário, as análises de isótopos estáveis não detectaram qualquer mudança ontogenética no habitat utilizado e na utilização de recursos alimentares. A alta variabilidade nos dados de 15N sugerem que os indivíduos de tartarugas-de-pente são especialistas dentro de uma população generalista, com um aumento da amplitude de nicho trófico a partir dos 7 anos de idade.

TEXTO COMPLETO

Palavras-chave: Tartaruga marinhaTartaruga-de-penteEsqueletocronologiaExtração de lipídiosEretmochelys imbricataIsótopos estáveis