Variação interanual da composição de comprimento e crescimento juvenil do camarão-rosa Farfantepenaeus paulensis (Pérez-Farfante 1967) (Decapoda: Penaeidae) em zonas rasas do estuário da Lagoa dos Patos, sul do Brasil
Autor: Eurico Mesquita Nolêto Filho (Currículo Lattes)
Resumo
Este trabalho tem por objetivo descrever a variação temporal e espacial de longo prazo na distribuição de freqüências de comprimento e crescimento de juvenis do camarão F. paulensis, no estuário da Lagoa dos Patos (ELP) e sua relação com fatores abióticos. O trabalho faz uso de uma longa série temporal mensal de dados (1996 a 2012 Projeto Ictio/PELD CNPq-MCT), trazendo novas perspectivas sobre a variação do crescimento, recrutamento e estrutura populacional e suas relações com as variáveis ambientais, sob a hipótese de que estas têm efeito na variabilidade tanto do crescimento, quanto do recrutamento e estrutura de tamanho no estuário. Adicionalmente, foi desenvolvida uma nova abordagem para a estimação dos parâmetros de crescimento da equação de von Bertalanffy usando a perspectiva do paradigma da decisão bayesiano de acordo com sua coerência biológica, sob a hipótese de que esta abordagem trará estimativas mais precisas e mais coerentes com a biologia da espécie.. As coletas foram realizadas, em zonas rasas, em 5 sítios amostrais (PL1 a PL5) que descrevem o gradiente ambiental da salinidade do estuário, com uma rede de praia do tipo picaré. Os dados de temperatura, salinidade e transparência foram obtidos em conjunto com as amostragens biológicas para cada ponto amostral. Informações complementares sobre vazão do sistema (unidade), captura de adultos (unidade), Índice Enso Multivariado, e Radiometria da Cor Oceânica foram obtidos em órgãos que disponibilizam publicamente esses dados - ANA; CEPERG, NOAA; NASA, respectivamente. Foi medido o comprimento total (CT) em milímetros dos camarões e, posteriormente, agrupados em classes de tamanho com intervalos de 5 e 10 mm para as análises de crescimento e composição de tamanho, respectivamente. O crescimento foi descrito (para os sexos agrupados) pelo modelo de crescimento de Von Bertalanffy. Uma abordagem alternativa para a análise de crescimento utilizando métodos bayesianos para o modelo de von Bertalanffy foi utilizada para a estimação de parâmetros da curva de crescimento. Os parâmetros de crescimento estimados usando o método de mínimos quadrados foram L =146 mm, k = 3.17 ano-1, T0 = 1.46 dia-1 e longevidade de 1.44 anos. Os parâmetros de crescimento estimados usando o método Bayesiano com as cadeias Markov foram: L=128.8±9.4 mm; k=0.01±0.001 dia-1 (3.65±0.3 ano-1); t0=1.94±1.03 dia-1. A longevidade foi de 1.2±0.1 anos. A alternativa Bayesiana mostrase mais adequada, pois pode medir a incerteza dos parâmetros contribuindo com um maior embasamento na aceitação de uma coorte com coerência biológica. O modelo de crescimento sugere que a espécie leva aproximadamente 111 dias após o nascimento para alcançar o tamanho mínimo de captura sugerido pela legislação (90 mm). Os números de coortes e de modas tiveram significativa correlação com as variáveis vazão e salinidade, indiciando a importância dessas variáveis para o recrutamento, no entanto as estimativas de abundância relativa dos juvenis (CPUE) não apresentaram correlação com nenhuma variável ambiental investigada. Contudo a CPUE apresenta correlação significativa com as coortes, sugerindo que ela pode sofrer efeitos indiretos das variáveis ambientais. Portanto, a salinidade e vazão regulam a entrada de larvas no estuário, mas não necessariamente influenciam diretamente a abundância dela. Os camarões, ao longo do seu crescimento, não se distribuem homogeneamente no ELP (p<0.05), e aparentemente não apresentam nenhum padrão relacionado à distância da boca do estuário e nem a temperatura e salinidade. A Análise de cluster sugere que os ambientes agrupados apresentam semelhanças quanto a sua composição sedimentológica, levantando hipóteses de que o tipo de sedimento aparenta ser um dos principais fatores a influenciar a distribuição de classes ao longo do estuário. Contudo, ainda existe a necessidade de uma melhor comprovação da existência real de tal relação. Os pontos PL3 e PL4 possuem maior abundância, e são apontadas como áreas propícias a pesca de indivíduos de tamanhos maiores. O ponto PL1 e PL2 apresentaram predominância das classes menores, sugerindo uma potencial área de proteção da pesca.