Tese - Mauro César Lamim Martins de Oliveira

O uso de riachos litorâneos por juvenis de tainha (Mugil liza) e seu papel na conectividade trófica do ambiente marinho e continental

Autor: Mauro César Lamim Martins de Oliveira (Currículo Lattes)

Resumo

A entrada de material alóctone pode influenciar a dinâmica da energia, do carbono e o balanço dos nutrientes de muitos habitats, sendo essa troca de materiais e energia entre os ecossistemas um dos principais temas de estudo da ecologia. Uma característica marcante da costa do Rio Grande do Sul é a presença de riachos litorâneos que interconectam o ambiente marinho com os sistemas límnicos dos banhados. Esses riachos apresentam abundantes cardumes de tainha (Mugil liza), entretanto, nada se conhece sobre a importância na cadeia trófica da penetração em grandes quantidades das tainhas nos riachos litorâneos e o papel desses corpos dágua no recrutamento da espécie. Nesta tese foi investigada a importância da tainha na transferência de nutrientes de origem marinha para a teia alimentar dos riachos litorâneos por meio de análise de isótopos estáveis e análise de conteúdo estomacal de consumidores piscívoros. Também foram realizadas análises microquímicas dos otólitos para determinar o papel dos riachos litorâneos no ciclo de vida da tainha e determinada a taxa de renovação da composição isotópica nos tecidos da tainha, com experimentos em laboratório, para se conhecer o tempo médio que os tecidos levam para refletir a troca do ambiente marinho para o de água doce. Quanto ao fluxo de energia entre os ambientes estudados, foi avaliada a importância do material alóctone de origem terrígena para a zona de arrebentação, descrevendo ainda as variações sazonais na estrutura trófica e a importância relativa das vias pelágicas e bentônicas para seus consumidores. Nossos resultados revelaram uma incorporação de nutrientes de origem marinha nos riachos litorâneos, com os juvenis de tainha agindo como vetores biológicos. Quanto ao papel dos riachos no ciclo de vida da tainha, os padrões da razão Sr.:Ca observados nos otólitos dos juvenis mostraram que apesar de entrarem nos riachos, eles conseguem sair, corroborando com a hipótese de que esses ambientes estariam funcionando como habitats temporários durante o início da vida da tainha (Mugil liza). Ao analisar os principais componentes da teia alimentar da zona de arrebentação, foi possível observar que os valores médios do 13C do POM e de alguns consumidores tiveram uma amplitude de variação cerca de duas vezes maior no inverno do que nas demais estações do ano (: 12,8 vs. 6,4). A diminuição nos valores de 13C durante o inverno pode ser explicada pela exportação do POM de ambientes aquáticos continentais adjacentes, especialmente dos riachos litorâneos, que desaguam na zona de arrebentação, porém a assimilação de material alóctone parece não ocorrer de forma uniforme entre todos consumidores, sendo restrita principalmente à organismos bentônicos filtradores situados na base da teia e por alguns peixes ocupando os níveis tróficos superiores. O experimento demonstrou que os juvenis de tainha apresentaram uma rápida taxa de renovação isotópica, com uma meia-vida (T50) de apenas 15 e 12 dias para o 13C e 15N e uma renovação quase total (T95) de 67 e 52 dias para o 13C e 15N, respectivamente. O fator de discriminação isotópica () foi de 2,8±0,5 para o 13C e de 4,3±0,4 para o 15N. Esses resultados são os primeiros obtidos experimentalmente para peixes marinhos nativos da América do Sul e, portanto, contribuirão na precisão e no refinamento dos estudos que empregam isótopos estáveis para desvendar a dinâmica trófica nas regiões costeiras neotropicais.

TEXTO COMPLETO

Palavras-chave: EcologiaPeixesMugil lizaIsótopos estáveisMicroquímica de otólitos