Dissertação - Ana Carolina Corrêa Tatsch

Uso do habitat, ecologia trófica e sobreposição de nicho em Odontocetos do Atlântico Sul-Ocidental, através da análise de isótopos estáveis

Autor: Ana Carolina Corrêa Tatsch (Currículo Lattes)

Resumo

Este trabalho teve como objetivo caracterizar a dieta, identificar áreas de forrageio, bem como o nicho isotópico de 18 espécies de odontocetos, pertencentes a quatro famílias distintas, que habitam diferentes zonas oceanográficas do Atlântico Sul-Ocidental (ASO). Foi utilizado o método de análises de 13C e 15N, em amostras de dentes e ossos de 122 exemplares. Além disso, a fim de avaliar possíveis vieses nas análises isotópicas, foram testados os efeitos da acidificação e da extração química de lipídios, bem como da interação entre estes tratamentos em ossos de baleias-bicuda. Foi também testada a eficiência de quatro modelos matemáticos de correção lipídica anteriormente publicados. A mudança no 13C após a extração foi significativa, evidenciando a necessidade de eliminar a priori os lipídeos das amostras ou utilizar um modelo matemático a posteriori. Níveis tróficos e/ou áreas de forrageio distintos foram evidenciados entre espécies e possíveis ecótipos. Um gradiente costa-oceano, assim como uma variação latitudinal, foram demonstrados através dos valores isotópicos de carbono apresentados pelas espécies analisadas. Duas espécies (Orcinus orca e Pseudorca crassidens) apresentaram diferenças intraespecíficas nas áreas de forrageio. Dentre as espécies que forrageiam em regiões da plataforma interna (i.e., enriquecidas em 13C) dois grandes predadores (i.e., O. orca e P. crassidens) particionam seus nichos em níveis tróficos elevados. Em regiões mais afastadas da costa (valores de 13C intermediários), diversas espécies também coexistem sem ter uma sobreposição nos seus nichos tróficos, ocupando desde posições tróficas elevadas (i.e., P. crassidens), intermediárias (i.e., Steno bredanensis), e outras mais baixas, como Delphinus delphis e Stenella frontalis. Na região da plataforma externa, incluindo talude e zonas mais profundas, duas espécies puderam ser localizadas em níveis tróficos baixos (i.e., P. crassidens e Grampus griseus), estando Physeter macrocephalus no extremo superior da cadeia trófica, e outras espécies (i.e., Kogia breviceps, Lagenodelphis hosei, Globicephala melas) em níveis tróficos intermediários. Zifídeos apresentaram baixos valores de 15N e 13C, coincidindo com suas dietas teutófagas e sua distribuição sobre águas profundas. Dentre eles, espécies tipicamente de altas latitudes (e.g., Berardius arnuxii) apresentaram os menores valores de 13C, de acordo com o gradiente latitudinal decrescente em direção aos polos encontrado nas bases das redes tróficas. Este estudo analisou evidências isotópicas de longo prazo sobre o habitat de forrageio e hábito alimentar de odontocetos, sugerindo que a plataforma externa e o talude são áreas de grande importância ecológica para os odontocetos do ASO, contribuindo com informações relevantes sobre o papel ecológico destes organismos neste ecossistema.

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Palavras-chave: Mamíferos marinhosCetáceos odontocetosEcologia tróficaNicho isotópico