Dissertação - Cristiana Neves Ferreira

Caracterização da pesca e abundância relativa da Tainha (Mugil platanus) (Gunther, 1880) no estuário da Lagoa dos Patos

Autor: Cristiana Neves Ferreira (Currículo Lattes)

Resumo

O ciclo de vida de Mugil platanus está intimamente relacionado a ambientes estuarinos, sendo o estuário da Lagoa dos Patos uma importante área de crescimento, alimentação e maturação gonadal para a espécie. M. platanus tem sido tradicionalmente capturada no Rio Grande do Sul pela pesca artesanal no estuário da Lagoa dos Patos, durante o outono, quando indivíduos em estágio avançado de maturação gonadal vão realizar a migração reprodutiva para desovar no oceano. Apesar das grandes flutuações na abundância da espécie estarem associadas às variações ambientais, a análise do histórico dos desembarques da pesca artesanal para o Estado (1960-2005) revela um quadro preocupante com uma tendência decrescente nas capturas a partir da década de 80 e um pronunciado decréscimo no peso médio capturado, a intervalos de 5 anos, para o período de maior captura (outono). No estuário da Lagoa dos Patos, durante os anos de 2002 e 2003, foram coletados, pela primeira vez, dados pareados de captura e esforço de pesca, em sete comunidades pesqueiras (Bosque, Mangueira, Torotama, Passinho, Capivaras, Várzea e Z-3). A coleta de dados foi feita por agentes de campo, da própria comunidade, sendo registrado um total de 1.188 operações de pesca dirigidas à M. platanus realizadas por 124 pescadores com captura total de 143.036kg. Nesse estudo foi feita análise da adequação do sistema de amostragem por agentes de campo para coleta de dados de captura e esforço de pesca, descrição das artes de pesca empregadas para a captura de M. platanus e análise da distribuição espacial e sazonal da abundância da espécie no estuário através da CPUE, sendo selecionada a unidade de esforço de pesca mais apropriada pela sua relação com a captura. O sistema de amostragem se mostrou satisfatório para contornar os constantes fracassos na coleta de dados, por técnicos e/ou pesquisadores, decorrentes principalmente da alta velocidade de comercialização das capturas. Os principais problemas encontrados foram: falta de um desenho amostral pré-definido que possibilitasse a realização de comparações; falta de capacitação dos agentes de campo para a tomada de dados; e falta de monitoramento da coleta de dados que resultaram em perda de informações e de detalhamento sobre as operações de pesca, e inclusão de possíveis fontes de erro na análise. No entanto, recomenda-se implementar esse sistema de coleta de dados, desde que sejam feitos os ajustes necessários, permitindo a identificação e correção dos problemas à curto prazo, a capacitação dos agentes de campo e o monitoramento da coleta de dados. A pesca de M. platanus é realizada predominantemente com duas artes de pesca: redes de cerco e redes de emalhe fixo, cada uma delas sendo considerado um grupo operacional estratégico. O emalhe fixo foi a arte de pesca mais utilizada, embora o volume das capturas com redes de cerco tenham sido superiores. Apenas na comunidade do Bosque a pesca com emalhe fixo foi desprezível. Não foram encontradas diferenças marcantes entre as comunidades pesqueiras quanto às artes e embarcações de pesca. Os maiores volumes de captura e maior esforço de pesca ocorreram principalmente no período de março a maio. Como unidade de esforço de pesca para o cerco, utilizou-se a combinação do número de lances e a área das redes. Para o emalhe fixo, a área das redes foi utilizada como unidade de esforço, sendo a escolha feita com base em literatura relacionada pois as capturas não foram explicadas pelas variáveis de esforço de pesca amostradas. A distribuição sazonal e espacial da CPUE não apresentaram tendências claras, observando-se padrões contrários para a pesca de cerco e de emalhe fixo. As baixas capturas encontradas nos dois anos, a pequena janela temporal, de apenas dois anos, os problemas na coleta de dados e a forte relação entre a abundância de M. platanus e as condições ambientais estão entre as possíveis causas desse resultado. A pressão pesqueira sobre o estoque no período de reprodução, juntamente com as condições ambientais prevalecentes, contribuem para as grandes flutuações na abundância de M. platanus .

TEXTO COMPLETO

Palavras-chave: OceanografiaPescaPeixesEstuáriosTainhaMugil platanusLagoa dos PatosBrasil