Tese - Santiago Montealegre Quijano

Biologia populacional do tubarão-azul, Prionace glauca (Linnaeus, 1758) (Carcharhinidae), na região sudoeste do Oceano Atlântico

Autor: Santiago Montealegre Quijano (Currículo Lattes)

Resumo

A biologia populacional do tubarão-azul, Prionace glauca (Linnaeus, 1758), no talude continental do sul do Brasil e em águas oceânicas adjacentes, foi investigada nos aspectos da distribuição, abundância, reprodução, idade, crescimento e demografia. Foram realizados sete cruzeiros de pesca comercial com espinhel, distribuídos em todas as estações do ano entre 2004 e 2006, que totalizaram 111 lances de pesca e 118.874 anzóis, lançados entre as latitudes 23ºS e 38ºS e as longitudes 29ºW e 52ºW. P. glauca ocorreu em todos os lances de pesca, representando entre 39,1 e 86,1% em torno da média de 58,5% do número total dos peixes capturados. Um total de 4068 machos e 443 fêmeas ocorreu nas capturas. O comprimento furcal (CF) variou entre 84 e 262 cm (média 164,7 cm) em 2.340 machos e entre 73 e 247 cm (média 170,9 cm) em 402 fêmeas. As capturas estão compostas principalmente por fêmeas adultas e machos sub-adultos. Pequenos juvenis (CF<120cm) foram abundantes no final do inverno e na primavera em águas com temperatura de superfície < 18ºC. Grandes adultos (CF > 210 cm) foram escassos em todos os cruzeiros. A CPUE (indiv./1000 anzóis) por sexo e fase de desenvolvimento indica que a abundância da espécie varia ao longo do ano em função da sazonalidade das massas de água de origem tropical e subtropical presentes na região. Os maiores valores de CPUE foram registrados na primavera e nas latitudes de 33ºS a 37ºS. A seqüência cronológica dos eventos e processos do ciclo reprodutivo do tubarão-azul no Atlântico Sudoeste segue um padrão anual, e a distribuição espacial desses eventos apresenta limites latitudinais, abrangendo toda a metade sul to oceano Atlântico. Indivíduos em todas as fases do ciclo reprodutivo são encontrados na região. Machos e fêmeas atingem maturidade sexual com CF em torno de 180 cm, correspondendo à idade de 6 anos. O tamanho e idade de primeira reprodução nas fêmeas foi maior, estimado em 191,5 cm e 7 anos. A fecundidade uterina total variou entre 9 e 74 embriões (média 34,4) com proporção sexual de 1:1. No estudo do crescimento foram analisadas 837 seções vertebrais, que apresentaram um máximo de 14 marcas de crescimento. A primeira marca de crescimento foi interpretada como a marca de nascimento. A análise da largura do incremento marginal revelou um padrão anual na periodicidade da formação das marcas, acontecendo principalmente nos meses de julho e agosto. Na área de estudo, ambos os sexos ocorrem com idades de menos de um ano de vida, até 12 anos as fêmeas e 13 anos os machos. O crescimento foi descrito pelo ajuste do modelo de von Bertalanffy, cujo melhor ajuste foi obtido com os comprimentos retrocalculados, não sendo encontradas diferenças entre os sexos. P. glauca é recrutada à pesca nas idades de seis anos nas fêmeas e 4 a 5 anos nos machos. Não foram observadas diferenças nos coeficientes instantâneos de mortalidade total, com taxas de explotação entorno de 55%. Uma alta capacidade de crescimento populacional foi constatada em cenários hipotéticos de ausência da pesca, em que o equilíbrio é alcançado com mortalidades de 90% dos neonatos. No cenário real mais otimista, com mortalidade natural no primeiro ano de vida de 40%, e as taxas de mortalidade constatadas em 2004 - 2006, a população não se encontra em equilíbrio, com taxa de crescimento populacional positiva em 5,4%. A plasticidade ecológica da espécie pode ser afetada caso seja diminuído a idade de recrutamento pesqueiro em um ano. São necessários estudos de marcação e recaptura no Atlântico Sul, para elucidar questões relacionadas à distribuição, reprodução e crescimento, dados fundamentais para um efetivo manejo e conservação dessa espécie-chave do ecossistema pelágico oceânico.

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Palavras-chave: OceanografiaBiologia populacionalTubarão azulOceano Atlântico Sudoeste