Bionomia da corvina Micropogonias furnieri, no extremo sul de sua área de ocorrência, através da análise química de otólitos
Autor: Cristiano Queiroz de Albuquerque (Currículo Lattes)
Resumo
O objetivo desta Tese foi estudar o ciclo de vida da corvina Micropogonias furnieri em relação a utilização de estuários, mudanças de habitat e interações entre estoques presentes na região costeira do Atlântico sudoeste, através da análise microquímica de otólitos. Entre 2004 e 2005 foram coletados otólitos de peixes adultos (idades entre 3 e 40 anos) no Brasil, Uruguai e Argentina e juvenis (0+) no Brasil. Com os juvenis foi realizado um cultivo com duração de 3 meses para avaliar a influência de salinidade e temperatura na incorporação de Sr, Ba, Mg e Mn em otólitos sagittae. Otólitos de adultos e juvenis foram incluidos em resina, seccionados em serra metalográfica e analizados em "laser ablation inductively plasma mass spectromer". Os resultados sugerem que temperatura influencia positivamente a incorporação de Mg e negativamente a de Sr. Os resultados apontam para o fato de que a concentração absoluta do elemento na água não é decisivo para sua incorporação nos otólitos, mas sim a relação do elemento com o Ca disponivel na água. A comparação de corvinas de água doce e marinha, demonstrou que as concentrações de Sr e Ba são bons indicadores de hábitat. O Sr aumenta com a salinidade e o bario diminui. As corvinas coletadas na Lagoa Mirim funcionam como padrões naturais para animais de água doce. A corvina foi caracterizada como espécie marinha estuarino dependente, que utiliza estuários nas fases iniciais de vida, podendo prolongar sua estadia nas proximidades destes locais por até 15 anos. Três padrões de mudança de hábitat de longo prazo foram observados. O padrão "A" inclui animais que tendem a ocupar hábitats cada vez mais marinhos ao longo da vida. O padrão "B" representa animais que, após saírem dos estuários, estabilizam sua movimentação em mais águas mais salgadas; e o padrão "C" considera indivíduos que passam toda a vida nas proximidades de zonas estuarinas. Foi constatada a existência de 3 estoques de corvina no Atlântico Sudoeste: entre Santos e Rio Grande; entre Rio Grande e Partido de la Costa, e nas proximidades de El Rincón. Estes estoques ocupam áreas definidas, porém com sobreposição, o que confere à espécie uma movimentação latitudinal com baixo grau de filopatria.