Dissertação - Emanuel Carvalho Ferreira

A dinâmica da pesca costeira de emalhe e o efeito nas taxas de captura acidental de toninhas Pontoporia blainvillei (Cetacea, Pontoporiidae), na costa sul do Rio Grande do Sul

Autor: Emanuel Carvalho Ferreira (Currículo Lattes)

Resumo

A toninha, Pontoporia blainvillei, é um pequeno cetáceo endêmico do Atlântico Sul-Ocidental, vulnerável à mortalidade acidental em redes de emalhe. A pesca de emalhe de fundo é uma das principais pescarias demersais da região Sudeste-Sul do Brasil e, nos últimos anos, observa-se uma tendência de procura por novas áreas de pesca e até por novos recursos, provavelmente para manter as capturas em níveis economicamente viáveis. Visando compreender melhor a dinâmica da pescaria de emalhe no Rio Grande do Sul e o potencial impacto desta na toninha, este trabalho descreve as tendências espaço-temporais das operações de pesca da frota de emalhe baseada em Rio Grande e os efeitos das mudanças no esforço desta frota de emalhe nas taxas de captura de toninhas. Dados sobre as características operacionais, esforço da frota e capturas acidentais de toninhas foram obtidos através de entrevistas e cadernos de bordo distribuídos a mestres de embarcações de emalhe de uma parcela da frota ( 10-15%), entre janeiro de 1994 e junho de 2008. Data, local, profundidade, espécie-alvo, duração da viagem, dimensões da rede, coordenadas geográficas da rede na água, hora de lançamento e recolhimento da rede e número de toninhas capturadas foram obtidas de cada lance de pesca. Informações oficiais de desembarque foram obtidas do Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros Lagunares e Estuarinos (CEPERG-IBAMA) e quatro espécies-alvo com série temporal completas do período de 1994 a 2005 foram selecionadas para a análise: Corvina (Micropogonias furnieri), Pescada-olhuda (Cynoscion guatucupa), Castanha (Umbrina canosai) e Anchova (Pomatomus saltatrix ). A distribuição espacial e temporal dos lances de pesca e das capturas acidentais por unidade de esforço (CaPUE) de toninhas foram analisadas. A estimativa anual de mortalidade de toninhas para toda a frota de emalhe de fundo sediada em Rio Grande e o intervalo de confiança não-paramétrico 95% foi calculada através de bootstrap. Modelos lineares generalizados foram utilizados para avaliar o efeito de variáveis ambientais e operacionais nessas capturas. Foram analisados 3652 lances de pesca, 16,8% destes capturaram 853 toninhas. As embarcações no decorrer dos anos ficaram com maior autonomia de mar, estocagem e capacidade para transportar redes mais compridas. O esforço da frota, quanto ao comprimento das redes, vem aumentando a uma taxa de aproximadamente 400 metros de rede por ano para a rede de corvina (R2=0,6397) e 454 metros para a rede de pescada (R2=0.8762). As maiores CaPUE foram observadas na faixa de profundidade entre 11 e 15m. Foi observada uma diminuição significativa nas CaPUES entre a década de 1990 e o período após o ano de 2000. A mortalidade total estimada para esta frota apresentou uma diminuição na mortalidade ao longo dos anos, com a maior estimativa para 1998, com 2122 (IC=1090-3725) toninhas mortas e a menor para o ano de 2007, com a captura de 285 (IC=157-492) toninhas. A área de pesca expandiu consideravelmente, tanto para o sul quanto para áreas distantes da costa. Foi observada uma mudança nos desembarques, com a diminuição nos desembarques de corvina e um aumento nos desembarques de castanha. A diminuição na mortalidade ao longo dos anos pode ser devida à diminuição na abundância de toninhas, mudanças nos locais de pesca e/ou espécies-alvo da pescaria. Considerando a sua relevância para o manejo, estas fontes de variação precisam ser investigadas pois, há evidências de que as taxas de mortalidade são insustentáveis e o esforço pesqueiro vem aumentado ao longo dos anos.

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