Tese - Leonardo Cruz da Rosa

As praias estuarinas da Baía de Paranaguá (região sul do Brasil) : aspectos morfodinâmicos e ecológicos

Autor: Leonardo Cruz da Rosa (Currículo Lattes)

Resumo

Essa tese tem como objetivo principal contribuir para o conhecimento da ecologia das praias arenosas estuarinas, sendo que para isso, uma série de 13 praias, distribuídas ao longo dos dois principais eixos da Baía de Paranaguá (Paraná, região sul do Brasil), foi analisada em duas situações distintas (verão e inverno) quanto a seus aspectos morfodinâmicos e ecológicos baseado na comunidade bentônica. Morfologicamente, as praias foram caracterizadas por apresentarem uma porção superior estreita e íngreme seguido por uma planície geralmente extensa e com baixa declividade na porção inferior, embora essa planície possa estar ausente em alguns casos. O tamanho do sedimento da face praial aumentou em direção ao interior do estuarino (de areia fina muito bem selecionada a areia grossa pobremente selecionada), enquanto que, numa situação oposta, as planícies arenosas tornaram-se lamosas nas praias mais internas. Ondas de pequeno tamanho (< 0,25m) e período curto ( < 5s) caracterizaram o regime de onda atuante nesses ambientes. Embora a aplicação dos modelos morfodinâmicos usuais tenha sido limitada pela qualidade dos dados de ondas utilizados, os perfis morfológicos observados corresponderam em parte com os descritos para ambientes de praia modificados e, principalmente, dominados por maré. Das quatro espécies de anfípodes talitrídeos registrados para a costa brasileira, três (Atlantorchestoidea brasiliensis, Talorchestia tucurauna e Platorchestia monodi) ocorreram de forma conspícua em 11 praias estuarinas da Baía de Paranaguá, sendo que A. brasiliensis esteve representada por apenas um indivíduo. T. tucurauna apresentou as maiores densidades, ocorrendo apenas em 5 praias localizadas próximas a desembocadura. A correlação positiva dessa espécie com os valores de salinidade sugerem uma baixa tolerância osmótica, o que poderia explicar sua distribuição espacial mais restrita. Por outro lado, embora com menores densidades, P. monodi ocorreu em todas as 11 praias analisadas. Essa espécie foi positivamente correlacionada com a biomassa de detrito, o qual provavelmente serve de abrigo para a espécie contra a predação e dissecação e como uma fonte de alimento alternativa. As densidades de tocas do caranguejo Ocypodidae Ocypode quadrata nas praias estuarinas foram similares as registradas para as praias oceânicas. Entretanto, a ausência de tocas nas quatro praias mais internas sugere que a salinidade juntamente com a compactação do sedimento sejam os fatores limitando a ocorrência desse caranguejo nas regiões mais internas do estuário. Entre as outras praias, a densidade de tocas mostrou uma marcada sazonalidade; os baixos valores observados durante o inverno estão provavelmente relacionados a uma diminuição das atividades dos caranguejos devido às baixas temperaturas durante o começo das manhãs de inverno. Crustáceos e poliquetas foram os grupos taxonômicos dominantes ao longo das praias estuarinas, embora oligoquetas e moluscos também apresentaram uma contribuição significativa em algumas situações. O número total de espécies variou entre 6 e 24, enquanto que os valores de densidade variaram entre 164 e 8 131 ind./m2. Embora os descritores da comunidade não tenham sido aparentemente influenciados pelos gradientes de salinidade e granulométricos observados ao longo dos dois eixos estuarinos, esses fatores foram responsáveis pelas marcantes mudanças na composição da macrofauna ao longo desses gradientes. As praias próximas a desembocadura apresentaram uma fauna similar as das praias oceânicas locais, enquanto que, organismos típicos de fundos estuarinos ocuparam as praias estuarinas mais internas. Redução na largura e aumento na declividade da face praial bem como redução no regime de ondas e aumento da influência da maré (com indicado pelo aumento do índice RTR: "relative tide range") foram as principais alterações observadas no ambiente físico entre praias oceânicas e estuarinas. Mudanças na composição da macrofauna entre esses dois tipos de praias foram correlacionadas com as alterações sofridas pela largura e declividade do intermareal bem como pelo RTR. Já os baixos valores de número de espécies, de densidade e de abundância da macrofauna nas praias estuarinas foram decorrentes da redução de hábitats favoráveis.

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Palavras-chave: EcologiaPraias estuarinasBaía de ParanaguáBrasilConservaçãoManejo