Tese - Juliana Couto Di Tullio

Uso do habitat por cetáceos no sul e sudeste do Brasil

Autor: Juliana Couto Di Tullio (Currículo Lattes)

Resumo

A distribuição das espécies de cetáceos, que em sua maioria são predadores superiores, é influenciada principalmente pela disponibilidade de suas presas que, por sua vez, têm uma dinâmica que depende das relações tróficas e das características ambientais. Os cetáceos que habitam áreas oceânicas apresentam distribuições amplas, enfrentando poucas barreiras físicas para realizar grandes deslocamentos, e, em geral, estão preferencialmente associados a relevos oceânicos mais proeminentes (e.g. quebra da plataforma continental) e locais mais produtivos como áreas próximas de ressurgências e frentes térmicas. Por outro lado, cetáceos costeiros tendem a formar populações menores, residentes e habitam áreas geográficas restritas, como desembocadura de rios e estuários que apresentam maior estabilidade na disponibilidade de presas. Identificar padrões de distribuição de cetáceos pode auxiliar o desenvolvimento de ações para sua conservação. Os principais objetivos dessa tese foram investigar os padrões de distribuição e diversidade dos cetáceos na plataforma continental externa e talude do sul e sudeste do Brasil e o padrão de uso do habitat por uma população do boto (Tursiops truncatus) que habita uma área costeira no sul do Brasil. No ANEXO I realizou-se uma análise exploratória utilizando índices ecológicos de diversidade e densidades de kernel para investigar padrões de diversidade e distribuição de todas as espécies identificadas em 8 cruzeiros dedicados à observação de cetáceos realizados em áreas oceânicas do sudeste e sul do Brasil. Foram avistados um total de 503 grupos e identificadas 21 espécies. A diversidade de espécies variou sazonalmente. Em geral, densidades de cetáceos foram maiores na primavera do que no outono. O cachalote (Physeter macrocephalus) foi a espécie mais frequente e se distribuiu principalmente na área sul e em profundidades maiores que 1000m nas duas estações. Avistagens do golfinho-comum (Delphinus delphis) ocorreram somente na área sul e sua densidade diminuiu em áreas de maior densidade de golfinhos-pintados-do-Atlântico (Stenella frontalis) principalmente próximos à isobata de 250m. As densidades de golfinho-rotador (Stenella longirostris) e golfinho-pintado-pantropical (Stenella attenuatta) aumentaram em menores latitudes e além da quebra de plataforma. Tursiops truncatus e a baleia-piloto-de-peitorais-longas (Globicephala melas) formaram grupos mistos e foram observados ao longo da área de estudo próximos à isóbata de 500m. O golfinho-de-Risso (Grampus griseus) ocorreu em maior frequência na área sul e sua densidade aumentou em profundidades maiores que 600m. Como era esperado, a densidade de baleias foram maiores durante a primavera na área sudeste. No ANEXO II os padrões de abundância e distribuição do cachalote no talude sul e sudeste do Brasil foram modelados utilizando amostragem de distâncias em transecções lineares e modelos aditivos generalizados. A taxa de encontro e o número de avistagens do cachalote foram maiores na primavera de 2012, representando cerca de 1/3 de todos os registros. A estimativa de abundância variou entre 177 (CV = 0,44) no outono de 2013 e 1516 (CV = 0,34) na primavera de 2012, considerando a máxima probabilidade de detecção na transecção (g(0) = 1). Esses valores aumentaram para 204 (CV = 0,46) e 1743 (CV = 0,34), respectivamente, quando considerado um g(0) = 0,87. De acordo com as curvas suavisadoras estimadas pelo modelo, a densidade do cachalote aumentou em águas mais profundas, em maiores latitudes e onde houveram um maior valor de densidade acústica biológica(NASC) e gradiente de temperatura superficial do mar. No ANEXO III foram descritos os padrões de distribuição do ecótipo costeiro do boto (Tursiops truncatus) e os períodos de maiores riscos de captura acidental por redes de emalhe da pesca artesanal no estuário da Lagoa dos Patos e águas adjacentes no sul do Brasil entre 2006 e 2009. Para isso também utilizou-se modelos aditivos generalizados selecionados utilizando o algoritmo "spatially adaptive local smoothing". As densidades de botos aumentaram em áreas próximas ao estuário. Ao longo da área costeira, a densidade dos botos aumentou em áreas próximas a costa e na área norte durante o período quente. Estes padrões de distribuição são causados provavelmente pela presença das presas preferenciais ou para evitar distúrbios relacionados as atividades antrópicas na área sul durante este período. O esforço pesqueiro se distribuiu ao longo de toda a área de estudo dentro do estuário. Na área costeira adjacente o esforço pesqueiro foi maior na área sul comparada a área norte durante o período quente. Variações sazonais na distribuição do esforço pesqueiro influenciaram a sobreposição e, portanto, o risco de captura acidental do boto. Uma área de proteção dos botos foi criada por meio de uma Instrução Normativa Interministerial, baseando-se nestes resultados. A partir destes trabalhos, pode-se concluir que, independente da área (costeira ou oceânica), os padrões de distribuição dos cetáceos são relacionados a variáveis ambientais que indicam áreas mais produtivas e fornecem evidencias da importância dessas áreas para essas populações.

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