Tese - Marianna de Oliveira Lanari

Macroalgas de deriva no estuário da Lagoa dos Patos (RS, Brasil) : fatores hidrológicos, estoque de nutrientes e efeitos na comunidade bentônica

Autor: Marianna de Oliveira Lanari (Currículo Lattes)

Resumo

A dinâmica espacial e temporal de florações de macroalgas de deriva e seus efeitossobre a matéria orgânica do sedimento e a comunidades bentônica foram investigadosno estuário da Lagoa dos Patos (ELP). Amostragens semanais e mensais de macroalgasforam realizadas em enseadas rasas do estuário durante 2004-2007 e 2012-2014.Experimento de campo foi conduzido durante o Outono de 2014. Períodos dominadospor macroalgas de deriva compostas predominantemente por Ulva clathrata, U.intestinalis e Rhizoclonium riparium foram observados, com altos valores de biomassa(até 2 kg PS m-2) indicando uma possível mudança de fase da vegetação aquáticasubmersa. Teor de N próximo ou acima de 2% da biomassa de macroalgas evidenciouuma alta disponibilidade de nitrogênio para o crescimento. A formação de florações foicontrolada principalmente pela descarga fluvial, a qual é influenciada por fatoresclimáticos (El Niño/La Niña) que afetam a precipitação na bacia de drenagem doestuário. A hidrodinâmica local determinou variações anuais e interanuais da ocorrênciae persistência das florações e variações nos parâmetros físico-químicos da águadeterminaram a sua magnitude. Baixa descarga fluvial durante o verão e outonopromoveu aumento na retenção d´água, proporcionando a permanência de macroalgasde deriva no estuário. Aumento na salinidade e irradiância e decréscimo na turbidez enível d´água, associados a maiores valores de temperatura, favoreceram o crescimentoalgáceo. Ondas e correntes gerados por ventos também afetaram a magnitude epersistência das florações através da retenção/dispersão de biomassa. O sedimentoapresentou baixos valores de carbono orgânico total e nitrogênio total em todos osperíodos e enseadas investigadas. O modelo de mistura de isótopos estáveis indicoubaixa contribuição da biomassa algácea para a matéria orgânica sedimentar (de 0,5% a8,1%), independente da magnitude e persistência das florações. Acúmulos demacroalgas de deriva persistentes no tempo não foram traduzidos em maiorincorporação de matéria orgânica no sedimento. Resultados experimentais evidenciaramuma alta instabilidade temporal e espacial de deposições de manchas de macroalgas dederiva sobre o fundo devido à advecção gerada pela alta hidrodinâmica local.Deposições transitórias (4-7 dias) de macroalgas ocasionaram decréscimossignificativos na biomassa aérea e subterrânea, e parâmetros demográficos dafanerógama Ruppia maritima. Alterações na estrutura e abundância da macrofaunabentônica não foram significativas, embora efeitos negativos indiretos da deposição demacroalgas de deriva sobre o macrozoobentos são sugeridos, mediados pela remoção deR. maritima. A análise conjunta dos resultados sugere que, apesar dos recentesaumentos de nutrientes reportados na área de estudo, a dominância de macroalgas dederiva pode ocasionar a oligotrofização do ELP a longo prazo, com um possíveldecréscimo da produção secundária estuarina.

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Palavras-chave: MacroalgasHidrologiaRuppia maritimaLagoa dos PatosRio Grande do SulBrasilMacrozoobentos