Ecologia trófica, uso de habitat e contaminação por mercúrio em garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus) em uma região litorânea e outra nerítica na costa do Rio Grande do Sul
Autor: Mario Vinicius Lopes Condini (Currículo Lattes)
Resumo
A garoupa-verdadeira é um peixe de grande porte (até 2,5 m e 400 Kg) que é explorado pela pesca comercial e esportiva ao longo da sua distribuição no Atlântico Oeste, Oceano Índico e Mediterrâneo, sendo atualmente considerado em perigo de extinção (IUCN). Devido ao tamanho avantajado e hábito carnívoro, a espécie pode exercer forte influência sobre a cadeia alimentar dos ecossistemas no qual está inserida. Apesar da sua importância econômica e ecológica, existem vários aspectos ainda desconhecidos sobre seu ciclo de vida e comportamento, especialmente no extremo sul do Brasil da sua distribuição no Atlântico Oeste, aonde a espécie ocorre em fundos rochosos na região litorânea e nerítica como os Molhes da Barra de Rio Grande (MB) e o Parcel do Carpinteiro (PC), respectivamente. A presente tese teve como principais objetivos principais investigar a ecologia trófica, padrões de movimento, uso de hábitat e contaminação de mercúrio da garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus) entre as regiões litorânea e nerítica no extremo sul do Brasil. Entre 2008 e 2011 foram coletadas 348 garoupas-verdadeiras (n=133 do MB e n=215 do PC) junto aos pescadores artesanais e frota pesqueira industrial. A partir desses indivíduos foi possível investigar a ecologia trófica da garoupa-verdadeira através de análises de conteúdo estomacal e isótopos estáveis e determinar que a espécie é um predador generalista com elevada posição trófica comparada às demais espécies de peixes nas duas áreas de estudo. As técnicas de análise empregadas mostraram diferenças na composição dos itens ingeridos e efetivamente assimilados pela espécie, que foram principalmente peixes e camarões. Através da análise de microquímica de otólitos (138Ba:43Ca) foi possível determinar, pela primeira vez, que alguns indivíduosda garoupa-verdadeira podem permanecer períodos prolongados (2-3 anos) em ambientes estuarinos, mostrando que a espécie apresenta maior plasticidade no uso de habitat do que registrado até então na literatura. Foram analisadas amostras de músculos da garoupa-verdadeira a fim de determinar o grau de contaminação por mercúrio da espécie em ambas as áreas de estudo. Os indivíduos de grande porte (> 650 mm CT) apresentaram elevados níveis de contaminação de mercúrio, os quais podem ser prejudiciais para a saúde da espécie e também mostrou limites acima dos aceitáveis para o consumo humano. Quando foram considerados apenas os indivíduos de classes de tamanhos similares, foi possível observar que os indivíduos que habitam o habitat litorâneo apresentaram maiores concentrações de mercúrio, provavelmente devido à proximidade com as fontes de poluição associados com as atividades humanas na região estuarina e sua bacia de drenagem. As informações científicas obtidas sobre a bioecologia da garoupa-verdadeira, inéditas para o extremo sul do Brasil e alguns casos para as demais áreas aonde a espécie ocorre, podem auxiliar os gestores e as autoridades competentes na criação de planos de conservação dessa espécie que atualmente está ameaçada de extinção.