Composição, abundância e respostas a variáveis ambientais da assembléia de Tipuloidea (Insecta: diptera) em marismas do estuário da Lagoa dos Patos
Autor: Lucas dos Santos Rodrigues (Currículo Lattes)
Resumo
Ecossistemas estuarinos apresentam características singulares em termos de ciclagem de nutrientes, salinidade, flora e fauna. Os animais que ocupam estes ambientes necessitam de grande plasticidade para tolerar as bruscas alterações ambientais; esta fauna é composta por uma mistura entre grupos de origem marinha (bivalves, crustáceos, poliquetas) e terrestre (aves, mamíferos, insetos). Embora tenham grande importância ecológica como detritívoros/succívoros, pouco se conhece quanto à ocupação, distribuição e ecologia dos insetos, incluindo Tipuloidea, neste ambiente. O objetivo dessa dissertação foi identificar as espécies de tipulídeos (morfologica e molecularmente), gerar um checklist e uma chave de identificação. E também avaliar a composição, sazonalidade e efeitos de variáveis abióticas sobre a abundância das espécies de Tipuloidea em marismas do estuário da Lagoa dos Patos, ao sul da região Neotropical. Três pontos foram amostrados ao longo do corpo estuarino, instalando-se duas armadilhas Malaise em cada ponto, uma em cada estrato de marisma: baixa e alta. As coletas foram realizadas quinzenalmente entre agosto/2015 e julho/2016, e o material coletado foi triado e identificado. Como resultados do primeiro capítulo foram coletados 5.248 tipulídeos identificados em quinze espécies e dezessete morfoespécies pertencentes a Limoniidae e Tipulidae stricto sensu. Os limites de distribuição de Symplecta cana (Walker, 1848) e duas espécies de Ormosia Rondani, 1856 foram expandidos. Adicionalmente, um complexo de espécies de Dicranomyia Stephens, 1829 também foi registrado. As relações filogenéticas entre as subfamílias de Tipuloidea corroborou Tipulidae stricto sensu como um grupo monofilético e Limoniidae como um agrupamento artificial. E no segundo capítulo uma curva de acúmulo de espécies revelou maior número de espécies no estuário superior seguido do estuário inferior e estuário médio. A classificação das espécies quanto à sua frequência de ocorrência revelou uma lacuna de ocorrência de espécies constantes no estuário médio, possivelmente devido ao estresse causado pelas elevadas flutuações de salinidade na área. Espécies de Dicranomyia, Gonomyia, Teucholabis e Zelandotipula foram acessórias apenas no estuário superior, enquanto Symplecta cana foi acessória apenas no baixo estuário, constatando a preferência de cada uma das espécies pelas respectivas condições físicas dos pontos do estuário. Uma CCA sugeriu maior abundância da maioria das espécies em temperaturas e umidades elevadas e velocidades de vento baixas. Symplecta pilipes teve clara contraposição e aumento de abundância em temperaturas mais baixas. Um diagrama de Whittaker junto a uma análise de PCoA revelaram uma alternância sazonal na composição das espécies de Tipuloidea, onde ficou evidente a maior equabilidade das espécies de Dicranomyia, Geranomyia, Rhipidia domestica e Symplecta cana (15-20%) durante o verão, enquanto no inverno houve dominância de Symplecta pilipes (80%). Assim, tal padrão sugere diferenças constantes e sazonais na estruturação da assembleia de tipulídeos, gerando modificações temporais eem sua composição nas marismas e, por conseguinte, potencial influência em níveis tróficos superiores.