Tese - Danielle da Silveira Monteiro

Encalhes de tartarugas marinhas e uso do habitat por Caretta caretta no sul do Brasil

Autor: Danielle da Silveira Monteiro (Currículo Lattes)

Resumo

A região subtropical do Atlântico Sul Ocidental (ASO) é utilizada pelas tartarugasmarinhas como área de alimentação e desenvolvimento. Este estudo teve como objetivo caracterizar os padrões de uso do habitat pela tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) nesta região e determinar a magnitude e padrão espaço-temporal dos encalhes de tartarugas marinhas na região costeira do Rio Grande do Sul (RS). O padrão espaço-temporal dos encalhes foi descrito com base em modelos lineares generalizados. A duração do estágio oceânico, o grau de especialização individual no uso dos recursos, as áreas preferenciais de uso e a sobreposição entre as áreas utilizadas pelas tartarugas com as áreas utilizadas pela pesca foram determinadas a partir de análises de isótopos estáveis de carbono e nitrogênio nas linhas de crescimento nos úmeros (n = 35) e rastreamento por satélite dos movimentos de indivíduos de C. caretta (n = 17). Observou-se que as tartarugascabeçuda, verde (Chelonia mydas) e de-couro (Dermochelys coriacea) são as espécies com maior número de encalhes na costa do RS. Além disso, constatou-se um aumentosignificativo no número de encalhes de C. caretta e C. mydas nos últimos 10 anosrelacionado, provavelmente, com ambos um crescimento no número de fêmeas nas áreas de reprodução e uma maior sobreposição entre as áreas usadas pelas tartarugas e pela atividade pesqueira na região costeira. Observou-se um aumento significativo nos valores de 13C e 15N com a idade e o tamanho dos indivíduos de C. caretta, condizente com a mudança para o habitat nerítico. O recrutamento para o habitat nerítico ocorre a uma idade média estimada em 13 anos, variando entre 8 e 18 anos. Contudo, este recrutamento não é abrupto e pode ser reversível, também corroborado por dados de telemetria. Indivíduos de C. caretta, em ambos os estágios de vida - oceânico e nerítico - apresentaram alto grau de especialização individual no uso dos recursos. Com o uso da telemetria por satélite observou-se extensa permanência de indivíduos de C. caretta no RS e uma plasticidade no uso do habitat. Os grandes juvenis utilizam a região oceânica como área de alimentação por longos períodos, mas, principalmente no inverno, quando a temperatura superficial do mar na plataforma esteve abaixo de 20 ºC. A combinação de análises de isótopos estáveis e telemetria por satélite revelou que a história de vida de C. caretta na região subtropical do ASO é complexa e com diferentes estratégias de forrageio que não estão relacionadas com o tamanho dos indivíduos. O alto percentual de sobreposição entre as áreas de maior uso por C. caretta com a pescaria de arrasto de parelha no verão (75%) e com esta pescaria e com o emalhe de fundo no outono (64%) sugerem a necessidade de implementação de medidas de gestão pesqueira que reduzamesta sobreposição e consequentemente a mortalidade de tartarugas marinhas na costa do RS.

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Palavras-chave: Tartaruga marinhaCaretta carettaEncalhesEcologia tróficaTartaruga-cabeçudaTelemetria por satéliteBrasilRio Grande do Sul