Tese - Guilherme Tavares Nunes

Influência das características ambientais sobre a estrutura populacional de Sula leucogaster no Brasil

Autor: Guilherme Tavares Nunes (Currículo Lattes)

Resumo

A associação de gradientes ambientais com a distribuição espacial dos organismos permite compreender o papel da ecologia sobre os processos evolutivos, e vice-versa. No entanto, a identificação de tais padrões em predadores de topo marinhos é dificultada pela alta mobilidade desses organismos e pela inerente dificuldade de caracterizar o altamente dinâmico ambiente oceânico. As aves marinhas, embora capazes de transpor grandes distâncias em curto tempo e sobrepor a área de vida de populações adjacentes, apresentam alta filopatria natal e reprodutiva, ou seja, baixas taxas de dispersão, lançando luz sobre os fatores que influenciam a diferenciação populacional e a promoção de diversidade biológica no grupo. O atobá-marrom, Sula leucogaster, é uma ave estritamente marinha, distribuída em todos os oceanos e com forte estrutura filogeográfica. No presente estudo, foram utilizadas seis colônias da espécie distribuídas ao longo de um gradiente latitudinal de 0 a 27°S na região sudoeste do Oceano Atlântico, para avaliar o papel das variáveis ambientais e características intrínsecas de cada colônia como pressões de seleção sobre a diversidade fenotípica e genotípica. Para isso, foram utilizados dados morfométricos e de nove loci de microssatélites para investigar diferenças entre populações, além de dados de rastreamento remoto, de isótopos estáveis, e de sistema de informação geográfica, para identificar padrões de variabilidade fenotípica intrapopulacional relacionados ao comportamento de forrageio, à dieta, e à qualidade do ninho. Dados físicos obtidos de imagens de satélite e boias oceanográficas, como temperatura do ar, temperatura superficial do mar, e concentração de clorofila também foram utilizados como variáveis explicatórias. Os atobás-marrons do Oceano Atlântico sudoeste apresentaram tamanho e massa corporais relacionados com a temperatura do ar, consistentemente com a Regra de Bergmann, exceto pelo desvio do padrão observado na população mais ao norte (Arquipélago de São Pedro e São Paulo), a qual possui características ambientais peculiares, como pequena área, alta densidade demográfica, e abundante oferta de alimento. Essa população também esteve isolada geneticamente das demais, as quais dividiram-se em mais dois grupos, sendo um relacionado às águas pelágicas pouco produtivas (Arquipélago de Fernando de Noronha e Atol das Rocas), e outro relacionado às aguas ricas em nutrientes sobre a plataforma continental (Arquipélago de Abrolhos, Ilhas Cagarras e Ilhas Moleques do Sul). Por fim, foi demonstrado que os atobás-marrons da colônia de São Pedro e São Paulo, os quais foram demonstrados ser geneticamente e fenotipicamente distintos dos demais, têm como principal pressão seletiva de tamanho corporal a qualidade do ninho. Pelo fato da área útil para reprodução ser bastante reduzida, ninhos de baixa qualidade podem comprometer o sucesso reprodutivo por conta da inundação, destruição por ondas, ou predação, e, portanto, é sugerido que o maior tamanho corporal de fêmeas, as quais conquistam e defendem os territórios, seja vantajoso naquela população, elevando a média de tamanho corporal de atobás-marrons de São Pedro e São Paulo em comparação com outras colônias. Em resumo, a adaptação às condições ambientais locais parece influenciar as taxas de dispersão de atobás-marrons mais do que a distância geográfica e, portanto, o modelo de Isolamento pelo Ambiente explica melhor a estrutura populacional de atobás-marrons no Brasil. Com isso, o presente estudo demonstra que a estrutura populacional de predadores de topo marinhos pode ser altamente dependente das condições ambientais, demonstrando a suscetibilidade da biodiversidade marinha frente às mudanças climáticas.

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Palavras-chave: AvesAves marinhasDietaRastreamento remotoSula leucogasterBrasil