Ecologia trófica do Pinguim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) no sul do Brasil
Autor: Fernanda Pinto Marques (Currículo Lattes)
Resumo
O pinguim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) migra para latitudes menores durante o período não reprodutivo, ocorrendo em áreas de grande produtividade no sul do Brasil. No inverno, a plataforma continental interna do Rio Grande do Sul, sul do Brasil, é influenciada pela Frente Subtropical de Plataforma e pela descarga do Rio da Prata e do estuário da Lagoa dos Patos, tornando-se uma importante área para a pesca e para o desenvolvimento de espécies-chave como a anchoita (Engraulis anchoita). A anchoita é o principal alimento do pinguim-de-Magalhães nas colônias ao norte da Argentina e supostamente também nas áreas de invernagem, embora isso não tenha sido demonstrado. Neste contexto, o objetivo deste estudo foi verificar a importância da anchoita na alimentação de pinguins juvenis e adultos durante o ciclo anual. Para determinar a ecologia trófica do pinguim-de-Magalhães, foram coletados indivíduos na praia (7 adultos e 27 juvenis) e no mar (18 adultos e 2 juvenis), provenientes da captura incidental na pesca de emalhe. Pinguins coletados no mar apresentaram índice de massa corporal maior (portanto eram indivíduos saudáveis), do que indivíduos encontrados na praia. A partir da análise de conteúdos estomacais, os indivíduos adultos (n = 21) tiveram peixes como principal alimento (PSIRI = 86%), e a anchoita como o principal item alimentar. Os juvenis tiveram os cefalópodes como principal presa (PSIRI = 71%), com Doryteuthis sanpaulensis como a mais importante. Apesar da grande importância de cefalópodes na dieta de juvenis, análises de isótopos estáveis de carbono (13C) e nitrogênio (15N) de fígado, músculo e penas, mostraram relevante contribuição da anchoita na dieta dos indivíduos estudados (95% intervalo de credibilidade - CI = 46,0 - 98,6%), assim como dos adultos (39,8 - 98,9%). Adultos e juvenis apresentaram sobreposição de nichos isotópicos nos tecidos analisados, apesar das diferentes amplitudes entre as classes etárias. Os resultados desse estudo ressaltam a importância da utilização de técnicas complementares e a necessidade de utilizar-se de indivíduos saudáveis para inferências adequadas sobre a ecologia trófica. A grande dependência da anchoita, como recurso chave pelos pinguins, demonstra que os predadores no topo da cadeia trófica precisam ser considerados em eventuais explorações comerciais deste recurso pesqueiro.