Dissertação - Renan Costa de Lima

Variação individual no uso de recursos e habitat de forrageio do Lobo-marinho-sul-americano (Arctocephalus australis)

Autor: Renan Costa de Lima (Currículo Lattes)

Resumo

A variação individual quanto ao uso de habitat e recursos em populações naturais tem sido reportada para uma grande diversidade de espécies. Essa variação se torna importante ao comparar indivíduos do mesmo sexo, classe de tamanho e classe etária, uma vez que pode influenciar a dinâmica e estabilidade populacionais. O lobo-marinho-sul-americano (Arctocephalus australis) é uma espécie cuja maior concentração de indivíduos encontra-se no Uruguai, podendo percorrer até 1000 km entre sítios de alimentação e colônias reprodutivas. A variação individual em A. australis foi avaliada considerando o sexo e o sítio de amostragem dos espécimes. Vibrissas de indivíduos adultos foram amostradas e tiveram suas razões isotópicas de carbono e nitrogênio analisadas longitudinalmente. Machos tiveram valores de 13C (-14,5 ± 0,6) e 15N (18,9 ± 1,2) significativamente maiores que as fêmeas (13C = -15,2 ± 0,5; 15N = 17,8 ± 1,2), indicando que eles utilizam recursos de diferentes níveis tróficos e/ou origens. Fêmeas do Uruguai e Sul do Brasil foram isotopicamente similares, demonstrando uma alta sobreposição de nicho isotópico. Machos do Uruguai e Brasil tiveram uma sobreposição de nicho isotópico moderada, e o mesmo ocorreu entre machos do Uruguai e Patagônia, indicando o uso diferenciado de presas ou áreas de alimentação. O grau de especialização individual, foi medido por meio do índice que relaciona a variação intraindividual no nicho ecológico à amplitude total de nicho (i.e. populacional), variando entre 0 (altamente especialista) e 1 (generalista). Os índices calculados mostraram que existe especialização significativa em machos, tanto no componente trófico/espacial (15N) (0,38), quanto espacial (13C) (0,39). As fêmeas, por outro lado, são mais generalistas quando comparadas aos machos (0,71 e 0,53, para 13C e 15N, respectivamente). Diferenças na oportunidade ecológica entre os sexos (e.g. fêmeas forrageadoras centrais vs. machos dispersivos) podem explicar esses resultados. O presente trabalho sugere que populações generalistas de A. australis resultam da mistura de indivíduos que possuem algum grau de especialização com indivíduos generalistas, e não apenas generalistas, como se pensava anteriormente.

TEXTO COMPLETO

Palavras-chave: Arctocephalus australisEspecialização individualIsótopos estáveisNicho isotópicoVibrissasOceano Atlântico Sudoeste