Tese - Ileana Margarita Ortega Ortega

Variabilidade espaço-temporal dos impactos da pesca de arrasto sobre as assembleias do macrozoobentos e estrutura do substrato em áreas rasas do estuário da Lagoa dos Patos, RS, Brasil

Autor: Ileana Margarita Ortega Ortega (Currículo Lattes)

Resumo

A distribuição de sedimentos e macrofauna em ambientes estuarinos é modulada porvariações nos parâmetros ambientais, como ventos e descargas fluviais, gerando mudanças nas condições hidrodinâmicas. A pesca de arrasto é uma das perturbações mais prejudiciais que afetam a fauna bentônica e seu habitat, sendo melhor entendido seu impacto quando avaliado junto com a variabilidade natural. Foram analisadas as variações espaço-temporais da granulometria (Capítulo 1) e da macrofauna (Capítulo 2) em duas áreas rasas com diferentes condições hidrodinâmicas do estuário da Lagoa dos Patos e a sua relação com parâmetros ambientais entre os anos 2015-2017. Analisou-se desde o enfoque ecossistêmico(EAF) o impacto da pesca de arrasto nas densidades, estrutura das assembleias eestratificação vertical do macrobentos (Capítulo 2), e na estrutura populacional do tanaidáceo Monokalliapseudes schubarti (Capítulo 4), por ser esta uma espécie dominante do estuário e um importante elo trófico desse ecossistema. Para isto, foram realizadas amostragens sazonais de sedimento e macrofauna nas duas áreas e aplicados arrastos experimentais de diferente intensidade em zonas marcadas dentro dessas áreas durante a época da safra do camarão nos três anos. As amostragens avaliaram o estrato superficial (0-5 cm) e um mais profundo (5-10 cm). Foi observada uma variação sazonal na composição granulométrica e no teor de matéria orgânica, com maiores percentuais de sedimentos finos (areia muito fina,silte e argila) e matéria orgânica nas zonas mais profundas, principalmente no inverno e primavera. Em zonas protegidas a direção e velocidade do vento foram os principais fatores geradores da variabilidade granulométrica, enquanto que nas zonas expostas as diferenças na batimetria tiveram um efeito mais significativo. A macrofauna respondeu espacialmente às variações na granulometria e temporalmente às variações na salinidade e temperatura. A composição das assembleias foi diferente entre as duas áreas amostradas, apresentando uma maior riqueza e densidade de espécies na área com maior hidrodinâmica por circulação local. O efeito do arrasto sobre o fundo foi maior nas áreas rasas com maiores porcentagens de sedimentos finos. Igualmente, nestas áreas foram detectados maiores sinais de impacto nomacrobentos, principalmente observando-se diminuição de densidades totais no estrato mais superficial. Não houve perda da estratificação vertical das assembleias macrobentônicas após o arrasto, mantendo-se maiores densidades e riqueza de espécies no estrato superficial. Foram observadas alterações nas densidades em algumas espécies de importância para as teias tróficas estuarinas como Erodona mactroides, Heleobia australis, H. charruana, Heteromastus similis, Laeonereis acuta e Monokalliapseudes schubarti. As respostas destas espécies frente ao arrasto variaram temporalmente, e foram mais marcadas as variações de densidade após o arrasto nas zonas onde foi simulada uma alta intensidade de pesca de arrasto. Foram observados decréscimos nas densidades de machos e juvenis de M. schubartino estrato superficial, e houve desaparecimento de fêmeas ovigeras em áreas com maiores percentuais de areias médias. Conclui-se, portanto, que o impacto do arrasto sobre espécieschave estuarinas pode comprometer o funcionamento do ecossistema, pois a macrofauna VIII bentônica serve como importante fonte de alimento para muitas espécies estuarinas, incluindo recursos pesqueiros.

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Palavras-chave: PescaPesca de arrastoImpactos ambientaisMacrofaunaParâmetros ambientaisLagoa dos PatosRio Grande do SulBrasil