Dissertação - Juliana Vallim Gaiotto

Influência do transporte de matéria marinha por aves sobre teias tróficas insulares

Autor: Juliana Vallim Gaiotto (Currículo Lattes)

Resumo

Aves marinhas transportam nutrientes e energia entre áreas de forrageamento no mar e áreas de reprodução em terra. O transporte de matéria marinha para o ambiente terrestre proporciona a fertilização do solo e o fornecimento de energia para diferentes níveis tróficos, capazes de gerar dependência entre teias tróficas marinhas e terrestres. O Arquipélago de Fernando de Noronha é a mais importante área para a reprodução de aves marinhas no Brasil, porém abriga espécies de vertebrados exóticos invasores que predam ovos e filhotes de aves, algumas das quais ameaçadas de extinção. Por serem potenciais transportadoras de nutriente marinho as aves podem sustentar teias tróficas insulares e, assim, essas interações precisam ser melhor compreendidas. Análises de isótopos estáveis (AIE) de carbono e nitrogênio indicaram a presença e o fluxo de matéria marinha ao longo das cadeias tróficas. A contribuição dos itens alimentares foi determinada através do Índice de Importância Relativa Presa-específica (%PSIRI) e de modelos de mistura isotópicos bayesianos. Hipotetizamos que a teia trófica insular é subsidiada por matéria de origem marinha transportada pelas aves marinhas, e que espécies exóticas invasoras utilizam esses nutrientes através do consumo direto e indireto. Ainda, predizemos que o aumento dos valores de 15N no ambiente se dissipe conforme o aumento da distância da fonte, e que espécies exóticas invasoras apresentem 13C de origem marinha em seus tecidos. Em duas transecções terrestres contínuas, com 50 m cada, iniciando no local de deposição (colônia ou área de descanso) foram coletadas amostras de plantas C3 e C4, formigas, aranhas e caranguejos terrestres. Também foram coletadas amostras de sangue, fezes e conteúdo estomacal de ratos (Rattus rattus), gatos (Felis catus) e teiús (Salvator merianae), para análise da dieta, e de fontes alimentares potenciais destes consumidores. A AIE evidenciou o uso de itens alimentares de origem marinha por todos os consumidores terrestres, incluindo vertebrados exóticos invasores e invertebrados terrestres. Os valores de 15N em plantas decresceram conforme o aumento da distância da fonte, e o enriquecimento isotópico foi detectado até 100 m de distância da colônia, porém com redução significativa. O lagarto endêmico (Trachylepis atlantica) teve alta contribuição na alimentação de todas as espécies exóticas. Aves contribuíram na dieta de gatos e ratos. No geral, demonstramos a importância dos nutrientes de origem marinha carreado por aves marinhas, para as teias tróficas insulares, incluindo vertebrados exóticos invasores. Adicionalmente, o impacto de espécies exóticas sobre espécies endêmicas e ameaçadas foi demonstrado. Os resultados reforçam a necessidade de adoção de medidas de conservação de espécies ameaçadas, através do manejo de vertebrados invasores nas ilhas. Tais medidas podem contribuir diretamente para o aumento populacional das espécies em risco de extinção, e indiretamente promover o aumento do aporte de nutrientes nas ilhas, restabelecendo o funcionamento do ecossistema em níveis mais próximos daqueles que ocorriam antes da chegada humana, quando as populações de aves eram maiores e com distribuição mais ampla no arquipélago.

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Palavras-chave: Ecologia tróficaGatos feraisIlhas oceânicasMaterial alóctone