Tese - Elisa Seyboth

Ecologia trófica e distribuição de cetáceos na Península Antártica Ocidental

Autor: Elisa Seyboth (Currículo Lattes)

Resumo

A Península Antártica Ocidental (PAO) tem sido apontada como uma das áreas mais afetadas pelo aquecimento climático. Como consequência, a cadeia trófica local vem sofrendo alterações, com significativa diminuição na abundância do krill-antártico, Euphausia superba. Esse é um importante recurso para diversos predadores de topo, incluindo os cetáceos, que utilizam a região principalmente como área de alimentação durante o verão. Consequentemente, é esperado que esses animais apresentem variações em sua abundância, distribuição, dieta e taxa de natalidade. O objetivo geral do presente trabalho foi avaliar aspectos da ecologia trófica e espacial de cetáceos na PAO. A análise de isótopos estáveis de carbono (13C) e nitrogênio (15N) foi utilizada para investigar diferenças regionais e temporais na transferência de energia entre componentes-chave da cadeia trófica da região entre os anos de 2013 e 2016. Foram analisados fitoplâncton (utilizando matéria orgânica particulada - MOP - como proxy), krill e cetáceos (baleia-jubarte - Megaptera novaeangliae, baleia-n - Balaenoptera physalus, baleia-minke-antártica - Balaenoptera bonaerensis e orca - Orcinus orca). Diferenças interanuais foram encontradas em 13C para as amostras de MOP e de baleias-fin, enquanto diferenças espaciais em 13C foram observadas para as amostras de MOP e de baleias-jubarte e em 15N para as amostras de MOP, baleias-jubarte e baleias-minke-antárticas. Tais diferenças foram atribuídas a diferenças ambientais contrastantes entre localidades da área de estudo. A análise dos mapas isotópicos gerados para a base da cadeia trófica indicou que menores valores de 13C e 15N para esse grupo tenderam a ocorrer em regiões de oceano aberto. Os principais grupos de fitoplâncton presentes nas amostras de MOP, identificados a partir da análise de cromatografia líquida de alta eficiência, foram diatomáceas e criptófitas. As contribuições desses grupos para a biomassa total de fitoplâncton foram, respectivamente, positiva e negativamente relacionados com os de 13C de MOP. Foi observada uma influência significativa de variações na densidade de krill da região da PAO sobre a taxa de natalidade de baleias-jubarte, com uma defasagem de um ano, como indicado por análise de correlação cruzada, realizada considerando o período de 2004 a 2010 (r2 = 0,90, p = 0,02). Assim, a tendência de aquecimento na região, com influência negativa sobre o desenvolvimento de krill, pode afetar a recuperação das populações de baleia-jubarte no Oceano Austral. Modelos Aditivos Generalizados (GAMs) foram utilizados para avaliar variações espaciais e temporais na densidade de baleia-jubarte e de baleia-fin no Estreito de Bransfield no período de 2013 a 2018. Os resultados indicam que maiores densidades de baleia-fin ocorrem em menores latitudes do que as maiores densidades de baleia-jubarte e que houve variações interanuais para ambas espécies. Entretanto, a baleia-fin parece estar apresentando um padrão de deslocamento para sul em relação a sua distribuição nas últimas décadas, possivelmente retomando sua histórica na região antártica conforme os estoques da espécie se recuperam após o período de caça. Considerando os resultados encontrados, recomenda-se que estudos futuros, bem como estratégias de manejo adotadas para a conservação do ecossistema antártico, incluindo as cotas e áreas de pesca de krill, considerem os efeitos climáticos nesse ecossistema como um todo, bem como os potenciais efeitos da remoção do krill na recuperação das baleias que utilizam a região.

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Palavras-chave: Mudança climáticaClimaOceano AustralBaleia JubarteBaleia-finIsótopos estáveisTaxa de natalidadeKrill