Alterações na história de vida e avaliação do estoque do goete Cynoscion jamaicensis (Vaillant & Bocourt, 1883) no sul do Brasil
Autor: Abner Ventura Alves (Currículo Lattes)
Resumo
O goete C. jamaicensis habita fundos areno-lodosos de 10 a 100 m no Atlântico do Caribeà Argentina. No sul do Brasil foram obtidas amostras em dois períodos (1977-80 e 2016-17) para estudar a dinâmica populacional, avaliar possíveis alterações no crescimento e maturação sexual, e o estado de explotação do estoque. Análises de incrementos marginais e tipo de borda demonstraram a formação anual de uma banda opaca (novembro a março) e uma banda translúcida (maio a agosto), validando a determinação de idades. O indivíduo mais velho foi um macho de 9 anos de idade com 325 mm de comprimento total amostrado em 2016. O crescimento em comprimento e em peso não diferiu entre os sexos, mas aumentou entre os períodos. Os comprimentos médios por idade foram significativamente maiores no período atual. O crescimento descrito pelo modelo de Von Bertalanffy também aumentou, embora os coeficientes do modelo não tenham apresentado diferenças significativas entre os períodos (Sexos agrupados: 1977-80: L: 308 mm, k: 0,5/ano, t0: -0,42; 2016-17: L: 331,7 mm, k: 0,46/ano, t0: -0,59). Os aspectos analisados relativos ao crescimento em peso indicam um aumento na incorporação individual de biomassa entre os períodos. O fator de condição teve aumento significativo para todas as classes de comprimento (p=0,043), e, atualmente, indivíduos de mesmo comprimento têm, em média, 1,97g a mais do que no período anterior. O peso médio por idade aumentou, sendo estatisticamente significativo para machos e fêmeas de3 a 6 anos. A frequência de estômagos cheios aumentou para o período atual. A reprodução ocorre de maneira sazonal (novembro a março). O comprimento de primeira maturação diminuiu de 230 mm para fêmeas e 234 mm para machos no período anterior, para 205 mm para ambos os sexos no período atual; a diferença foi significativa. A idade de primeira maturação também diminuiu de 2,3 para fêmeas e 2,5 anos para machos, para1,9 e 1,82 anos, a diferença foi significativa apenas para machos. Com distribuições de comprimento obtidas em amostragem de desembarques nos anos de 2016 e 2017, avaliou-se a fração do potencial de desova remanescente no estoque, revelando perdas de, no mínimo, 60% no potencial reprodutivo. Sugerindo uma diminuição na abundância da espécie na região. As alterações no crescimento e na maturação sexual provavelmente são resultantes de processos denso-dependentes que aumentaram a disponibilidade de alimentos devido à diminuição da competição intra e interespecífica.