Dissertação - Milena Rizzi

Ingestão de lixo plástico marinho por tartarugas marinhas no sul do Brasil: abundância, características e seletividade

Autor: Milena Rizzi (Currículo Lattes)

Resumo

Os impactos causados pelo lixo plástico marinho (LPM) têm sido comumente reportados devido às interações negativas com a biota marinha. A ingestão é uma destas interações e já foi observada para diversas espécies incluindo tartarugas. Na costa brasileira ocorrem cinco espécies de tartarugas marinhas: a tartaruga-verde Chelonia mydas, a tartaruga-cabeçuda Caretta caretta, a tartaruga-de-pente Eretmochelys imbricata, a tartaruga-oliva Lepidochelys olivacea e a tartaruga-de-couro Dermochelys coriacea. Todas estas espécies estão ameaçadas de extinção e identificar os fatores que levam à sua interação com o LPM é uma prioridade para a conservação. Neste estudo, quantificamos e caracterizamos o LPM ingerido pelas cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no litoral sul do Rio Grande do Sul, Brasil, de acordo com a biologia e ecologia das espécies e identificamos as características do LPM ingerido, e avaliamos esta ingestão pela tartaruga-verde através do tempo. Foram coletados 86 tratos gastrointestinais de tartarugas marinhas provenientes de encalhes e capturas incidentais na pesca entre 2013 e 2017. O LPM encontrado foi quantificado e caracterizado, e foram avaliadas diferenças entre espécies, tamanho, habitat ocupado, estratégia alimentar e preferência por tipo e cor. A variação temporal da ingestão pela tartaruga-verde foi avaliada a partir de dados de 1997 a 2017. O LPM foi encontrado em 49 dos 86 indivíduos (57%) e em todas as espécies, com a tartaruga-verde apresentando maior ingestão (81%). Os plásticos representaram 97% dos itens, sendo as embalagens, linhas de pesca e fragmentos rígidos os mais ingeridos. Alguns itens não plásticos foram encontrados em baixa frequência (3%), sendo comuns os balões de borracha. A tartaruga-verde está sob contínua e elevada ameaça do LPM na região de estudo ao menos desde 1997, data do primeiro estudo abordando o tema. Os indivíduos de habito alimentar onívoro (80%) apresentaram ingestão de LPM superior aos carnívoros (25%), enquanto que indivíduos dos habitats nerítico e oceânico apresentaram ingestão semelhante (58% e 50%, respectivamente). Em tartarugas-verdes a quantidade de LPM ingerida não teve correlação significativa com o tamanho do indivíduo coletado; já para as tartarugas-cabeçudas foi observada correlação significativa negativa. Para a tartaruga-verde o modelo linear generalizado (MLG) demonstrou haver interação entre o tipo e cor dos itens ingeridos. Com relação ao Índice de Importância Relativa Presa-específica (%PSIRI) os fragmentos flexíveis transparentes (29%), flexíveis brancos (12%) e rígidos brancos (12%) foram os mais importantes. Para a tartaruga-cabeçuda o MLG não demonstrou interação entre tipo e cor do LPM. Os fragmentos rígidos (PSIRI = 30%), fragmentos flexíveis (18%), isopor/espuma (18%), e as cores branca (40%) e preto/marrom (29%) apresentaram os maiores %PSIRI. Os resultados obtidos auxiliam no entendimento da ingestão de LPM pelas diferentes espécies de tartarugas marinhas, e fornecem informações de base para definição de políticas de prevenção e mitigação para este problema global.

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Palavras-chave: Poluição do marTartaruga marinhaOceano Atlântico Sul OcidentalÍndice de seletividade