Dissertação - Rihel Venuto dos Santos

Variação intrapopulacional do repertório de assobios do boto-de-Lahile, Tursiops truncatus gephyreus(Cetartiodactyla, Delphinidae), no extremo sul do Brasil

Autor: Rihel Venuto dos Santos (Currículo Lattes)

Resumo

O objetivo principal deste trabalho foi caracterizar e avaliar as variações microgeográficas nas emissões de assobios de três unidades sociais do boto-de-Lahille (Tursiops truncatus gephyreus), as quais se sobrepõem parcialmente no espaço e no tempo quanto ao uso de área do estuário da Lagoa dos Patos e região costeiras adjacentes no sul do Brasil. Objetivamos secundariamente investigar a variabilidade destas vocalizações em função de fatores bióticos e abióticos. Assim, assobios foram gravados durante 22 saídas de campo realizadas em um período de um ano (01/2017 - 01/2018), utilizando-se um hidrofone HTI-96-MIN (High Tech Inc., com sensibilidade de -165dB re: 1V/µPa e resposta de frequência de 5 - 30 kHz) conectado a um gravador Tascam DR-680MKII, com uma taxa de amostragem de 96kHz. Adquiriram-se 5304 assobios, dos quais 1926 foram selecionados para análise segundo critério de qualidade. Para verificar possíveis variações no repertório das unidades utilizaram-se apenas assobios de grupos foto-identificados cuja unidade social era única, totalizando 193 assobios. O maior valor de frequência máxima dos botos estuarinos superou os das unidades costeiras em mais de 5 kHz (22,24 kHz). De todos os parâmetros acústicos, o número de pontos de inflexão e a duração do assobio expressaram os maiores coeficientes de variação. Modelos lineares generalizados indicaram variações em vários parâmetros acústicos dos assobios dos botos entre as três unidades sociais. O parâmetro faixa de frequência foi importante para distinção entre as três unidades sociais. Duração e ponto de inflexão também foram importantes; entretanto, somente na diferenciação entre a unidade norte e a estuarina. Modelos aditivos generalizados demonstraram que fatores biológicos, como tamanho de grupo, presença de filhotes e comportamento de superfície, e abióticos, como local e temperatura, possuem relações significativas com alguns dos parâmetros acústicos analisados. Durante o comportamento de deslocamento, os botos utilizaram frequências geralmente mais baixas para se comunicar em comparação com outros estados comportamentais como alimentação. Assobios registrados ao longo costa (i.e. localidades norte e sul) apresentaram frequências significativamente menores em comparação à região estuarina. Nossos resultados indicam uma variação microgeográfica nos assobios do boto-de-Lahille no sul do Brasil, ressaltando a importância da bioacústica como ferramenta para distinção e caracterização populacional desta subespécie.

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Palavras-chave: Unidade socialVariação intraespecífica