Impacto do arrasto artesanal na disponibilidade de presas e na dieta de organismos megabentônicos estuarinos
Autor: Samanta da Silveira Borges (Currículo Lattes)
Resumo
A pesca com redes de arrasto é amplamente praticada ao redor do mundo. Capturas oriundas dessa arte representam um quarto da produção pesqueira mundial. Essa prática ocasiona inúmeros impactos, incluindo efeitos diretos e indiretos sobre o bentos, assim como a alteração da disponibilidade de alimento para organismos que se alimentam nessa região. O objetivo desse estudo foi avaliar o impacto causado pelas redes de arrasto artesanais na disponibilidade de alimento para as espécies Penaeus paulensis e Callinectes sapidus, e seu possível efeito sobre a dieta desses predadores. Foram construídos dois mesocosmos (1 controle e 1 com pesca simulada) e coletadas amostras de sedimentos para analisar o zoobentos, a granulometria e matéria orgânica. Os procedimentos de coleta foram sempre realizados antes, imediatamente após o arrasto e dois dias depois, sendo feito o experimento em triplicata. As amostras de sedimento foram separadas em dois Estratos verticais (0-5 e 5-10 cm de profundidade) para avaliar a estratificação da fauna, a disponibilidade de presas e a alteração que estas poderiam sofrer depois do arrasto. Para a análise de conteúdo estomacal foi utilizado o Índice de Importância Relativa de Presas Especificas (PSIRI). Foi detectada uma diminuição significativa da matéria orgânica (P= 0,001) entre Antes e Depois do arrasto. A abundância total de zoobentos apresentou aumentos e decréscimos significativos no Estrato 0-5 após o arrasto (P=0,02), ressaltando a vulnerabilidade dos organismos que ocupam as camadas superficiais do sedimento frente a esta perturbação. Foram observadas alterações nos principais itens encontrados no conteúdo estomacal do P. paulensis e C. sapidus com diminuições e aumentos não constantes nas diferentes presas, assim como aumento na ingestão de vegetação superior em ambas espécies após o arrasto. Foi constatado que algumas alterações da abundância e riqueza de organismos do zoobentos causada pela pesca de arrasto refletiram na dieta do camarão rosa e do siri azul. Portanto pode se concluir que o arrasto tem um efeito indireto nas tramas tróficas estuarinas.