Tese - Genyffer Cibele Troina

Ecologia e interações tróficas de cetáceos no Atlântico Sul Ocidental

Autor: Genyffer Cibele Troina (Currículo Lattes)

Resumo

As águas costeiras e oceânicas do sudeste-sul brasileiro sustentam uma grande diversidade de espécies de cetáceos, e o principal objetivo do presente estudo é entender a ecologia e interações tróficas dessas espécies. Para este fim, foi analisada a composição isotópica do carbono (13C) e nitrogênio (15N) em uma espécie de cetáceo costeira (toninha, Pontoboria blainvillei) e suas presas, e em amostras de pele de dez espécies de cetáceos oceânicas e dos organismos que compõem os diferentes compartimentos da cadeia alimentar (material orgânico particulado - MOP, zooplâncton, peixes e lulas). As amostras de toninhas foram obtidas de animais acidentalmente capturados em redes de pesca na costa sul do Brasil entre 1994-2010. No primeiro capítulo avaliamos as diferenças ontogenéticas e sexuais em seus hábitos alimentares usando os valores de 13C e 15N nos dentes de toninhas e aplicando modelos de mistura isotópica para estimar a contribuição proporcional de suas principais presas à sua dieta. Não foram observadas diferenças nos hábitos alimentares entre machos e fêmeas, nem entre adultos de diferentes idades. Além disso, houve diferença na importância das principais presas estimadas pelos modelos de mistura e estudos anteriores com base no conteúdo estomacal. As amostras de cetáceos e presas oceânicas, bem como a dos organismos que compõem a base das teias tróficas (MOP e zoolpâncton) foram obtidas durante dez cruzeiros de pesquisa (2012-2015) realizados nos meses de primavera e outono. Caracterizar os padrões espaço-temporais em 13C e 15N na base das cadeias alimentares é essencial em estudos ecológicos para a avaliação dos hábitos alimentares e padrões de migração de animais marinhos com base nesses traçadores. Assim, no segundo capítulo desta tese foram construídos mapas isotópicos (isoscapes) descrevendo os padrões latitudinal (norte-sul), longitudinal (plataforma continental externa PCE - região oceânica) e sazonal (primavera-outono) nos valores de 13C e 15N do zooplâncton. No terceiro capítulo, foram avaliados a ecologia trófica e as interações entre as espécies de cetáceos que habitam essas águas oceânicas por meio dos valores isotópicos. No capítulo 4 foram analisados os dados de 13C e 15N em todos os organismos, desde os produtores e consumidores primários até os predadores de topo, em uma abordagem ecossistêmica. Além disso, a posição trófica das diferentes espécies de cetáceos oceânicos foi estimada através da análise dos valores de 15N em seus aminoácidos. Os padrões de 13C e 15N na base das teias tróficas pelágicas (zooplâncton) observados ao longo da área refletem o contraste entre as diferentes massas de água que influenciam sazonalmente as regiões sudeste-sul. Os valores de 13C aumentam e os de 15N diminuem entre a PCE e a região oceânica. 13C diminui em direção a região sul na área oceânica enquanto os valores de 15N são mais altos na região sul. Além disso, o valor de 13C foi significativamente mais alto no outono e o do 15N foi mais alto na primavera. Os valores isotópicos nas espécies de cetáceos seguiram os padrões da base das teias tróficas das regiões sudeste e sul. Os dados isotópicos permitiram a identificação de duas potenciais subpopulações de Stenella frontalis. Uma alta sobreposição de nicho isotópico entre S. frontalis da região sul com Delphinus delphis sugere que eles compartilham recursos similares, porém utilizando a segregação espaço-temporal como uma forma de diferenciação de nicho para minimizar competição. Os dados isotópicos apontaram alta similaridade entre Tursiops truncatus, S. frontalis e Globicephala melas no uso de recursos. Steno bredanensis apresentou os maiores valores de 15N e 13C, e os valores mais altos em 15N observados nos aminoácidos do tipo fonte ajudaram a corroborar a sua ocorrência em ambientes neríticos. Em contraste, os baixos valores de 13C e 15N de S. longirostris sugerem alimentação em águas oceânicas em níveis tróficos relativamente baixos. Além disso, seu nicho isotópico se sobrepôs apenas ao de S. attenuata. Os baixos valores de 15N em Orcinus orca sugerem que o ecótipo amostrado neste estudo ocupa posição trófica relativamente baixa, que foi confirmado com a análise de 15N em aminoácidos. Por fim, os valores de 15N na pele e nos aminoácidos de Physeter macrocephalus sugerem que os indivíduos se alimentam de níveis tróficos relativamente altos e semelhantes entre si. Os dados apresentados aqui fornecem informações originais sobre os hábitos alimentares, as interações tróficas e o nicho ecológico dos cetáceos que habitam as águas costeiras e oceânicas do Atlântico Sul ocidental.

Texto completo

Palavras-chave: CetáceosIsótopos estáveisAminoácidosIsoscapesInterações tróficasOceano Atlântico Sul Ocidental