Dissertação - Camila Carvalho de Carvalho

Ecologia alimentar de Peixes-boi no Brasil com base em análises de isótopos estáveis de carbono e nitrogênio

Autor: Camila Carvalho de Carvalho (Currículo Lattes)

Resumo

Estudar a ecologia alimentar é essencial para entender questões comportamentais, incluindo aspectos de uso de habitat importantes para subsidiar estratégias de conservação. Existem poucos estudos com enfoque na dieta para as duas espécies de sirênios que ocorrem no Brasil, o peixe-boi-amazônico (Trichechus inunguis) e o peixe-boi-marinho (T. manatus). Além de haver poucas informações disponíveis, essas espécies apresentam ampla distribuição, podendo assim, apresentar variações espaciais na dieta. Com o objetivo de compreender a ecologia alimentar dessas espécies, as variações na dieta e o uso do habitat das duas espécies foram avaliados por meio da análise de isótopos estáveis. Para T. inunguis, as amostras de dentes depositadas em coleções científicas foram utilizadas. Modelos de mistura isotópica foram utilizados para estimar a composição da dieta dos indivíduos provenientes do médio Rio Solimões, Estuário do Rio Amazonas, rios Negro e Tapajós. Os peixes-boi apresentaram diferenças significativas nas médias de 13C e 15N entre os diferentes habitats.Os animais do Rio Negro apresentaram menores valores de 13C (-28,7 ± 1,8 ) e de 15N (7,5 ± 1,7 ) e os animais do médio Solimões maiores valores de 13C (-17,0 ± 2,7 ) e de 15N (9,3 ± 1,1 ). Para os animais do médio Rio Solimões, houve um efeito significativo da classe ontogenética nos valores de 13C (p=0.002), enquanto não foi observado efeito significativo da classe ontogenética, sexo e da interação entre os fatores nos valores de 15N. Os modelos de mistura mostraram que as plantas C4 e plantas aquáticas C3 contribuem em similar proporção para a dieta do peixe-boi no médio Solimões e no Estuário do Rio Amazonas (a diferença de contribuição de 0,04 a 0,06). Modelos de mistura para peixes-boi do Estuário do Rio Amazonas apresentaram alta contribuição de macroalgas. No caso de T. manatus, amostras das regiões norte e nordeste do Brasil foram obtidas de coleções científicas. A área estudada foi dividida em Litoral Amazônico (LA), Litoral Setentrional do Nordeste (LS-NE) e Litoral Oriental do Nordeste (LO-NE). Os nichos isotópicos dos indivíduos de cada área foram calculados com base nas composições isotópicas dos indivíduos coletados em cada região e mapas isotópicos foram gerados. Os valores de 13C foram mais altos para os peixes-boi-marinhos do LS-NE (-8.1 ± 1.2 )e mais baixos para os animais do LA (18.7 ± 5.5 ). O nicho isotópico mostrou-se mais amplo para os peixes-boi-marinhos do LO-NE(SEAc = 18,2 2), seguido dos animais do LA e (SEAc = 6,4 2) e LS-NE (SEAc = 5,0 2). Diferenças nas disponibilidades de tipos de plantas entre habitats (água doce, estuarino, marinho) provavelmente são responsáveis pela maior parte da variação espacial encontrada. Diferentes requerimentos energéticos associados ao crescimento e reprodução também podem estar relacionados às variações na dieta. Aparentemente, tanto T. inunguisquanto T. manatus são espécies oportunistas e generalistas, alimentando-se de uma ampla gama de recursos alimentares de acordo com a sua disponibilidade no ambiente.

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Palavras-chave: Trichechus inunguisTrichechus manatusNicho isotópicoEcologia alimentar